“A dívida da Câmara é insustentável”

Por em 14 de Outubro de 2011

Entrevista com José Russo, director do Centro Dramático de Évora (Cendrev).

Desde que o Cendrev lançou o alerta público sobre a situação dramática da companhia em termos de financiamento já lhe chegaram palavras de apoio, de solidariedade?
Muitas, muitas, de presidentes de câmara, amigos, gente de vários pontos do mundo, pessoas que já escreveram ao presidente da Câmara de Évora, outras que perguntam sobre a existência de uma petição … temos recebido muitos contactos de pessoas que sabem das dificuldades por que estamos a passar e que se mostram solidárias com a justeza desta inquietação que atravessa a Cultura na cidade de Évora e neste caso em particular o Centro Dramático de Évora.

E da parte da Câmara?
Da parte da Câmara Municipal de Évora não, não houve reacção nenhuma. Sei que durante a última reunião pública do município o assunto foi abordado e que a resposta do senhor presidente [José Ernesto Oliveira] foi muito lacónica ao referir que já tinha dito tudo o que havia a dizer sobre esta matéria. Não sei mais nada. Relativamente ao Cendrev não houve mais contacto nenhum. Nem isso, nem procederam ao pagamento de qualquer montante [que se encontra em dívida desde o segundo semestre de 2009].

O Centro Dramático de Évora reclama a definição de um prazo de pagamento?
Pedimos que se encontre uma solução, que a Câmara vá pagando da forma que entender melhor mas que esta situação se vá resolvendo. É o que a gente espera que aconteça. Como também espera que os 24 mil euros em dívida por parte do Ministério da Cultura sejam desbloqueados. Para nós, o recebimento de qualquer verba é absolutamente determinante uma vez que não podemos parar de trabalhar.
E não o têm feito.
Não, não, ainda esta semana estivemos em Viana e em Vendas Novas, continuamos a cumprir com as nossas obrigações e não podemos deixar de o fazer. No próximo dia 17 retomamos os ensaios da próxima peça [Café Mário, com estreia marcada para 19 de Novembro], como se encontra previsto no protocolo com o Ministério da Cultura.

Este mutismo por parte da Câmara de Évora é revelador de alguma arrogância?
Não o quero classificar dessa forma porque sempre tivemos boas relações com a Câmara de Évora e não queremos ter más relações. Entendemos que tem de existir uma atitude de solidariedade e de colaboração e estranhamos que face a esta situação tão complicada, que também decorre do corte de 23% no financiamento por parte do Ministério da Cultura, não existe outro tipo de atitude por parte da autarquia. Está em causa muito dinheiro. Estamos a falar de 70 mil euros a menos no orçamento do Cendrev, o que dá para pagar mais de quatro meses de salário aos funcionários da companhia. Estranhamos que face a esta situação a Câmara de Évora não tenha uma atenção de outro tipo, no sentido de nos ajudar.

Isso não sucedeu?
Não, não sucedeu apesar de sermos um agente cultural desta cidade, gerirmos um espaço municipal que é o Teatro Garcia de Resende, intervimos no concelho, em todas as freguesias rurais … estamos a trabalhar em prol do desenvolvimento cultural do concelho e da cidade.

A dívida da Câmara de Évora é insustentável?
A manutenção desta dívida no valor de 150 mil euros é insustentável … não podem pagar tudo de uma vez mas esperamos que a Câmara tenha bom senso para ir regularizando a situação.
Mas o que está sobre a mesa é um corte de 60% no financiamento do município?
Essa é a proposta que está feita por um júri [constituído pela autarquia no âmbito do regulamento de apoios aos agentes culturais] para o apoio de 2011. Quando falamos de uma dívida de 150 mil euros não está lá o apoio ao Cendrev correspondente a este ano.

E que sentido faz essa proposta de corte?
Não é só o corte proposto para o Cendrev que não faz sentido. Nada daquilo faz sentido do nosso ponto de vista. Mas sobre isso não me quero estar a adiantar muito pois está a decorrer a audiência de interessados, já respondemos a isso e espero que a questão possa ser avaliada com a devida ponderação e feitas as respectivas alterações. O que está aqui em causa é uma avaliação negativa de tudo o que é actividade cultural desta cidade.

Haverá aqui uma intenção deliberada de asfixiar financeiramente o Cendrev?
Não sei se há … enfim, diz-se muita coisa mas com o que se diz convivo bem.

Certo. Mas há decisões políticas que são tomadas e que vão num mesmo sentido, ou não?
É claro que sim, temos alertado recorrentemente para essa situação, não é de agora. Aliás, não somos só nós a fazê-lo mas os diversos agentes culturais da cidade. Fez-se vários contactos com a Câmara para alertar para o esvaziamento cultural da cidade. Está a ser posto em causa o funcionamento dos próprios agentes culturais de Évora.

Sobre Luís Godinho

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