Cegonha-branca reduz migrações

Por em 19 de Abril de 2016
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É Inverno, o camião do lixo surge carregado e as cegonhas aprontam-se para a caça. O lixo irá ser despejado e rapidamente aparecerá uma máquina que o vai espalhar e cobrir de terra.

É durante este intervalo, depois de o camião chegar e antes de a terra esconder o lixo, que as cegonhas obtêm uma refeição. Os alimentos podem ser restos de carne, de peixe, algo mais “escabroso como um animal morto” ou pouco comestível como “um pedaço de computador”, conta ao PÚBLICO a bióloga portuguesa Aldina Franco, da Faculdade de Ciências Ambientais da Universidade de East Anglia, em Norwich, no Reino Unido, que tem estudado esta ave.

Os aterros são um festim para as cegonhas e uma peça fundamental que ajuda a explicar uma mudança de comportamento nesta espécie. Desde a década de 1980 que mais e mais cegonhas-brancas (Ciconia ciconia) portuguesas desistiram de migrar para a África subsariana durante o Inverno, mantendo-se por cá. Hoje é possível encontrar abaixo do rio Tejo muitas cegonhas residentes nos 12 meses, e também aves vindas da Alemanha e da Polónia que substituíram o Verão africano pelo Inverno da Península Ibérica. Um censo feito em 2015 contou 14.000 indivíduos em Portugal durante a temporada fria, mostrando a dimensão da nova realidade.

Pensa-se que as alterações climáticas e o aumento das temperaturas nos meses mais frios também desempenharam um papel nesta mudança. Mas não se conhece muito bem como as cegonhas vivem, qual o seu quotidiano e quão dependentes estão dos aterros. Por isso, um estudo liderado por Aldina Franco, e que contou com investigadores da Universidade de Lisboa, analisou o dia-a-dia de 17 cegonhas residentes anuais em Portugal e descobriu que os aterros são uma fonte de alimento importante para estas aves, principalmente no Inverno, quando algumas chegam a voar 50 quilómetros até ali.

Apenas 20% das cegonhas-brancas que vivem em Espanha continua a viajar até África. Apesar de não haver este tipo de dados para Portugal, Aldina Franco acredita que a proporção é semelhante. Não se sabe exactamente o que leva cada cegonha a decidir ficar. As cegonhas vivem até 30 anos e têm tempo para evoluir no seu comportamento.

 

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