Crónicas da Transtagana

“Mãos à obra” – e hoje não podemos apertar a mão a ninguém.
Olhamos para trás e no princípio da caminhada encontramos uma expressão corriqueira, mas cheia de determinação: “mãos à obra”.
Em cada encontro sentimos que ficámos mais ricos pela experiência e pelo ensinamento.
Afeiçoamo-nos aos lugares e às pessoas.
Ouvimos as histórias contadas, com emoção, com alegria muitas vezes. Sentidas sempre.
E lemos comoção nos olhares.
Espreitamos para fora da objetiva e pousamos o caderno de apontamentos para, mais que os saberes, partilhar inquietações que passaram a ser nossas.
E em cada crónica e em cada dia vemos mãos que também são identidade.

Mãos que têm alma e mãos que ensinam, mãos que arquitetam cortes de cabelo e mãos que seguram a história das casas de cortiça ou que cozinham e servem vinho na taberna.
E vimos no rio mãos que jogam com os seixos, e sorriem e apertam o peito para segurar o carinho e conter o desgosto.
E soubemos que cada expressão pode ser sublinhada pelas mãos que desfiam memórias, fazem poesia a carvão e vendem lendas.
E vimos,
Mãos que fixam a arte
Mãos que guardam memórias
Mãos que são livres
Mãos que ordenham
Mãos que conhecem a serra
Mãos que acreditam no futuro
Mãos que são para o negócio
Mãos que nos dão música
Mãos que desenham máquinas
Mãos que estão calejadas do varejo
Mãos que moldam madeira
Mãos que tecem
Mãos que dançam.
E hoje não podemos apertar a mão a ninguém.
Texto. José Pinto
Fotos: Florbela Vitorino
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