Produto inovador garante futuro do montado de sobro

Por em 19 de Outubro de 2011

Com a exportação de rolhas em “baixa”, empresários investem em novas formas de utilização da cortiça para garantir futuro do sector.

Controlar derrames de petróleo, como os que atingiram a costa da Galiza (em 2002) ou o Golfo do México (2010), passou a ser mais fácil graças a um produto português inovador feito à base de cortiça e que já está a ser exportado para 10 países, incluindo Alemanha, Espanha, França e Austrália.
Tudo começou com o desafio de encontrar aplicações de protecção ambiental para a cortiça que garantam a sustentabilidade económica da fileira. O resultado chama-se CorkSorb. É uma gama inovadora de absorventes naturais para o controlo e limpeza de derrames de hidrocarbonetos, agora premiada com o Green Project Awards, iniciativa conjunta da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), da Quercus e da GCI.
“A cortiça tem boa capacidade de absorção de derrames, estudámos o mercado e desenvolvemos um produto que apresenta vantagens claras em relação à concorrência”, diz André Macedo Teixeira, responsável pelo desenvolvimento de novos negócios da Corticeira Amorim, garantindo que basta um quilo de absorventes de cortiça para resolver um derrame de 10 litros de óleo. Se fosse utilizado um absorvente mineral seriam necessários cerca de 20 quilos, o que se traduz em custos de transporte acrescido. “É uma enorme vantagem ambiental. A nossa solução gera 11 quilos de resíduos, contra 30 no caso dos absorventes minerais”.
A esta maior capacidade de absorver os poluentes, junta-se o facto de o CorkSorb separar a água dos produtos inflamáveis ou tóxicos, o que o torna “extremamente eficiente” no caso de derrames marítimos. “A cortiça não é muito hidrofóbica mas aplicamos um tratamento que ainda a faz absorver menos água. Por isso, as nossas barreiras marítimas mantém-se a flutuar durante muito mais tempo que os produtos da concorrência”, sublinha André Macedo Teixeira.
De acordo com a Corticeira Amorim, esta gama de produtos inclui grânulos de cortiça, almofadas e barreiras marinhas absorventes para controlo de derrames em meios aquáticos e bóias de limpeza para fossas, poços colectores e reservatórios de difícil acesso, permitindo responder a “qualquer situação de derrame, tanto em meios industriais como em estradas ou meios aquáticos”. As células de cortiça captam o óleo por capilaridade mantendo-o no seu interior e continuando a flutuar mesmo após saturação, devido à sua estrutura de células de ar e baixa densidade.
“Estamos a criar uma nova aplicação que permite garantir o futuro de todo o sistema socioeconómico à volta da cortiça, do montado de sobro às unidades industriais, passando pela fixação de pessoas nos meios rurais, combate à desertificação e preservação da biodiversidade”, acrescenta André Macedo Teixeira, sem esconder o “entusiasmo” pela procura crescente deste produto a nível internacional: “Temos registado um crescimento muito grande nas encomendas”.
A explicação deste sucesso reside também no facto de se tratar de um produto natural de fonte renovável – “há mercados muito sensíveis à utilização de uma matéria-prima ambientalmente sustentável como a cortiça em detrimento, por exemplo, do polipropileno [plástico]” – que apenas sofre um processo de selecção e tratamento para se tornar mais eficaz.

Fixador de carbono

Portugal é não só o maior produtor de cortiça do mundo (157 mil toneladas por ano, o dobro do segundo país, a Espanha) como é também o país com maior área de montado de sobro: 736 mil hectares (cerca de 30% do total mundial). Só em Portugal, os sobreiros são responsáveis pela retenção de mais de quatro milhões de toneladas de CO2, por ano.
Habitat de 135 espécies de plantas e 42 espécies de pássaros, o montado de sobro constitui a base de um sistema ecológico único no mundo, contribuindo para a sobrevivência de muitas espécies da fauna autóctone e para a salvaguarda do ambiente.
Este ecossistema inclui várias espécies de formigas, abelhas, borboletas e répteis, bem como o lince ibérico, a espécie de felino mais gravemente ameaçada de extinção do planeta. Destaca-se ainda a elevada variedade de aves, algumas delas igualmente ameaçadas, como é o caso do abutre negro, a cegonha preta ou a águia imperial.
O sobreiro encontra-se associado à paisagem alentejana, onde de facto, subsiste em grandes concentrações. Devido ao escasso povoamento desta região, a sua sobrevivência foi mais fácil, embora também tenha sofrido ‘baixas’ nas guerras peninsulares que marcaram a expansão territorial portuguesa durante sete séculos.

Sobre Luís Godinho

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