Seca no Alentejo

Por em 4 de Setembro de 2023
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Quase não chovia desde Janeiro, não há pasto para os animais e a alimentação está esgotada no mercado. Os agricultores estão a vender os bovinos e alguns temem que falte carne no próximo ano.

Ainda a Primavera não ia a meio e já havia agricultores alentejanos a admitir vender o seu gado bovino por não terem alimentação para lhe dar. A seca, que matou os terrenos de pasto e secou as fontes de água, e a inflação, que fez disparar os preços de quase tudo ligado ao mundo rural, são as razões do que alguns classificam como “uma tragédia”. Com o Verão à porta, a situação continua a agravar-se, até porque, mesmo para os que tenham alguma folga financeira, “não há alimentação disponível no mercado”.

A venda de bovinos que deviam estar para criação não pára de crescer, como o PÚBLICO comprovou num leilão de gado em Portalegre. Alguns agricultores admitem mesmo a hipótese de, no próximo ano, haver “muito menos” carne nacional nas prateleiras dos supermercados e nos frigoríficos dos talhos e temem que os produtores com mais dificuldades comecem a abandonar os animais.

Queixam-se ainda da falta de apoio do Governo, que “só agora abriu as candidaturas para os apoios” e de “uma má negociação da Política Agrícola Comum (PAC)” por parte da ministra da pasta, Maria do Céu Antunes, “que ainda vai penalizar mais os agricultores”.

“Muitos não vão sobreviver”

Na herdade da Cabeça Gorda, na freguesia de Veiros, no concelho de Estremoz, António Martelo, 54 anos, olha com visível tristeza para uma parte do terreno de pasto que se espalha por alguns dos cerca de 500 hectares da sua propriedade. “Por esta altura, o pasto devia estar pela altura do joelho e está como se vê”, diz. E o que se vê é erva “morta” e seca, sem um ponto de verde que sirva para os bovinos mastigarem.

“Não tenho memória de uma seca tão terrível. Em Dezembro do ano passado, as fortes chuvadas causaram estragos em várias culturas e inundaram os pastos. Daí para cá quase não choveu. Passaram seis meses, vamos entrar no Verão e não vai haver água seguramente durante mais quatro meses. Muitos [agricultores] não vão sobreviver. Não lhes resta nada mais do que vender o gado, porque não têm comida para lhe dar. Até já me falaram que alguns estão a vender as propriedades”, afirma este engenheiro agrónomo.

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