Tecnologia inovadora reduz consumos de água na rega
Controlador permite adaptar a quantidade de água às necessidades diárias das plantas.
Já alguma vez passou por um jardim que está a ser regado num dia de chuva? Optimizar os sistemas de rega nas grandes cidades, onde facilmente se contabilizam centenas de espaços verdes, é uma tarefa complexa para a qual nem sempre existem recursos humanos disponíveis. Por isso, há dias em que a rega é efectuada apesar de não haver necessidade e outros em que, por exemplo, as plantas recebem água no “pico” do calor, justamente quando a evaporação é maior.
O desperdício tem consequências gravosas uma vez que, em regra, está a ser utilizada água da rede, sujeita a um tratamento dispendioso para a tornar potável.
Para facilitar a vida – e aliviar a carteira – a autarcas e agricultores, Shakib Shahidian, professor do Departamento de Engenharia Rural da Universidade de Évora, estudou uma solução denominada Ecorega que permite evitar o desperdício fornecendo a quantidade exacta de água que as plantas precisam. A tecnologia, inovadora, está a ser testada com sucesso num jardim em Évora, numa horta nos arredores de Lisboa e no castelo de Alvor, sendo que podem ser aceites outras parcerias.
“As condições atmosféricas são variáveis. Cada dia poderá ser mais quente ou mais frio do que o habitual e as plantas têm necessidades diferentes de água conforme essas circunstâncias”, diz Shakib Shahidian, inventor de um sistema capaz de fazer todos os cálculos e “ajustar de forma automática a rega à fase de crescimento da planta e à temperatura do dia”.
Trata-se de um controlador colocado nos sistemas de rega. Ligados os cabos, o aparelho determina os débitos de água em função de uma fórmula matemática com base em quatro factores: temperaturas, época do ano, radiação solar e características do local a irrigar. Este ano, por exemplo, o calor excessivo que se tem registado nos meses de Setembro e Outubro levaria o aparelho a “libertar” maiores quantidades de água.
“Os parâmetros introduzidos permitem-nos estabelecer com 95% de certeza as necessidades das culturas. Ou seja, temos 95% de certeza que estamos a deitar à planta apenas a água de que ela precisa”.
Segundo Shakib Shahidian, o sistema representa uma “enorme vantagem ambiental” em relação aos modos tradicionais de rega, aplicável tanto em jardins como em campos de golfe ou mesmo em plantações agrícolas. “É fundamental pouparmos água potável”. Os ensaios realizados apontam para reduções de 50% e de 20% nos consumos de água, respectivamente em jardins e agricultura, comparativamente com os sistemas actuais.
“Enquanto um agricultor tem uma horta e dá muita atenção ao que está a fazer, as autarquias têm muitas dificuldades em atender às centenas de pequenos jardins”. Ou porque não há pessoal suficiente para todas as semanas adaptar os programadores de rega aos factores atmosféricos, ou porque os tipos de vegetação existentes nos jardins públicos exigem adaptações ao nível das quantidades de água.
Por enquanto esta tecnologia está ao alcance de qualquer um. “Estamos a dar o aparelho e a prestar apoio durante um ano a quem quiser ser nosso parceiro neste projecto. Depois, se a pessoa o quiser comprar pagará um preço de 150 euros”, explica o professor e investigador da Universidade de Évora, revelando que está a ultimar um outro “salto inovador” através do qual será possível aceder ao controlador de rega a partir do telemóvel.
Regar sem desperdício
É na Primavera e no Outono, quando se alternam dias de muito frio com outros de muito calor, que a Ecorega desenvolvida no Departamento de Engenharia Rural da Universidade de Évora se torna “mais útil” uma vez que é “difícil programar” antecipadamente a quantidade de água necessária para efectuar a rega.
O aparelho, que se adapta aos actuais sistemas por gota-a-gota e aspersão, tem em conta a evapotranspiração [perda de água do solo por evaporação e perda de água da planta por transpiração], calcula as quantidades necessárias e mantém um teor constante de água no solo permitindo regar sem desperdício.
Shakib Shahidian diz que esta tecnologia tem condições para substituir as estações meteorológicas existentes nalgumas explorações agrícolas, compensando a “menor precisão” com o preço significativamente mais baixo e com a facilidade de utilização tanto em culturas como o milho, onde apenas é necessária uma aplicação correcta da água, como nas vinhas ou em campos de golfe: “O relvado é muito fácil de gerir com este sistema”.
Gestão eficiente
O consumo de água num jardim depende muito da tipologia de plantas utilizadas, da estação do ano e do clima da região. No processo de rega existem perdas por processo de evaporação, cuja magnitude é influenciada por factores como temperatura, humidade, radiação solar e vento.
O desperdício resulta da rega com um volume de água superior às necessidades reais das plantas e à capacidade de absorção do solo.
Uma utilização eficiente da água nos espaços verdes passa pela adopção dos seguintes procedimentos: fornecimento da quantidade de água realmente necessária para a planta; alteração de metodologias de gestão de rega, do solo e das plantas e substituição do equipamento de rega.
0 comentários