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MIGUEL ANGELO NA PRIMEIRA PESSOA – BEJA

Miguel Ângelo, 46 anos, conhecido nomeadamente por ter sido a voz dos já extintos Delfins, dos quais foi um dos fundadores. É músico, arquiteto de formação, integra o projeto Resistência e integrou projetos como Resistência, Movimento e Canções ao Desafio. Produziu o disco dos African Voices e mais recentemente o disco de estreia d’Os Lábios, “Morde-me a Alma”. Apresentou, “Miguel Ângelo ao Vivo”, na RTP1, e “Cantigas da Rua”, na SIC, e integrou o júri residente dos concursos “Selecção Nacional” da RTP1 e de “Chuva de Estrelas da SIC”. Participou como ator e intérprete na peça teatral “Breve Sumário da História de Deus”, de Gil Vicente e, fez dobragens para os filmes de animação “Pocahontas” e “Pocahontas II”, “O Corcunda de Notre Dame” e deu voz a Woody no filme “Toy Story”.
Como escritor estreou-se com “A Queda de um Homem (ensaio para romance) “, seguindo-se “Calor!”, “Venha o Diabo e escolha”, “A Resistente”, “Arte vs. sexo” e, em 2010, lançou a sua autobiografia, “Um Lugar ao Sol – 25 anos de carreira”.
Inicia em 2012 a sua carreira a solo com PRIMEIRO.
– Arquitecto, músico, compositor, escritor, produtor, apresentador, ator, considera-se o HOMEM dos SETE ofícios? Bem, pelo menos desses 7! A música é denominador comum, em muitos dos casos, e dentro das artes e do entretenimento é aliciante aventurarmo-nos nouros universos. No ano em que entrei para a faculdade lancei também o primeiro single dos Delfins. Já aí tinha escolhido.
– Em 2010, lançou a sua autobiografia, “Um Lugar ao Sol – 25 anos de carreira”. Sentiu a necessidade de fazer uma retrospetiva, como que um arrumar a casa, para iniciar uma nova etapa na sua vida?
Foi um convite, como 99% das coisas que faço fora da minha caixa. Acabei por ocupar o meu ano sabático com a escrita da autobiografia de carreira que serviu pelo menos para agrupar em pastas e organizar cronológicamente as milhares de folhas soltas de rcortes de imprensa que enchiam as gavetas em casa! Mas sim, foi em boa altura, balançar para trás, sem cair, só para conseguir a “embalagem” para me atirar em frente.
– Porquê Miguel Ângelo a solo, e o que o distingue do Miguel Ângelo dos Delfins?
Aquilo que é mais simples e óbvio: o factor autobiográfico da escrita e a direcção estética. Como autor, compositor e produtor há um maior peso da nossa mão naquilo que é feito. Mas gravei este disco a achar que sou a mesma pessoa que fui e sem nenhum preconceito emr relação ao que vem de trás. E claro, com ajuda dos meus colegas. Acho que saiu tudo naturalmente e não houve autocensura. Afinal estava, mais uma vez, em busca das canções.
– A sua imagem está fortemente ligada aos Delfins. Sente necessidade de fazer o “descolamento” dessa imagem?
Como respondi anteriormente, não. Em 1998, quando lancei “Timidez”, quis mesmo fazer essa descolagem, até porque os Delfins continuavam a existir. Hoje em dia não. Vejo a minha carreira mais como uma linha contínua do que um percurso de ciclos e fases distintas. Deve ser da idade…
– O que lhe dá mais prazer: escrever, compor ou cantar?
As três coisas, especialmente se acontecerem ao mesmo tempo. E é assim que me nascem as canções. Não escrevo letras para as musicar depois nem componho música para depois trabalhar uma melodia de palavras. Mas o que me dá mesmo prazer é cantar e tocar essas canções ao vivo.
– Qual dos seus temas mais prazer lhe dá cantar?
O que me dá ainda mais prazer é quando eu nem preciso de cantar! Felizmente que muitas das canções que cantei ao longo dos anos são reconhecidas ao ponto de serem entoadas pelo público com um volume de som muito mais alto do que o meu! Isso é algo inexplicável e ao mesmo tempo completo para quem um dia escreveu uma canção num quarto, sozinho em casa…
– Resume todos os passos da sua vida com as letras das suas canções?
Quase que dava, não era? No caso dos Delfins as canções puxam histórias, imensas histórias de viagens e acontecimentos já de âmbito lendário. No meu caso presente, em “Primeiro”, as minhas histórias é que puxam as canções.
– Como surgem as suas músicas? Como define o seu processo criativo?
Às vezes catártico, outras muito artesanal e demorado, lapidando as palavras e a melodia. As canções é que aparecem e eu tenho de estar lá, de ficar disponível. Pode parecer muito místico mas é a coisa mais terrena que há: somos um fiel depositário de influências de tudo o que vemos, ouvimos e sentimos. E quando há uma conjugação disso tudo, disparada por uma imagem qualquer ou uma frase que nos fica na cabeça, parece que tudo faz sentido. E aí resta-nos criar algo de “novo”.
– Considera que tem um estilo musical próprio? Como o define e quais as são as suas influências musicais?
Em pequeno ouvi muita música anglo-saxónica. Ainda hoje oiço. Só comecei a ouvir mais música portuguesa quando os grupos mais novos de finais dos anos 70 começaram a editar discos e a tocar ao vivo. Vi muitos, muitos espetáculos. Era o meu vicio, juntamento com os discos de vinil. Quando começámos com os Delfins senti-me parte de um grupo de pessoas que trabalhava no duro para criar uma indústria musical em Portugal. E é aí que nasce uma nova música portuguesa, única no seu tempo, com as primeiras referências da era da globalização, quando todos queríamos viver as coisas ao mesmo tempo em qualquer lado do mundo. Por isso oiço muita música nova, hoje em dia portuguesa e estrangeira. E continuo a assistir a muitos espetáculos. Claro que a pop e o rock continuam a ser os meus campos de eleição, apimentados pela eterna soul music e pelos blues. Se há fado na minha voz? Acho que há fado nas palavras portuguesas, independentemente da sua entoação.
– Porquê PRIMEIRO, uma vez que em 98 já tinha experimentado uma carreira a solo com o lançamento de TIMIDEZ?
Porque agora é que é o primeiro, no sentido de ser um começo de uma carreira a solo. “Timidez” foi uma experiência única, numa altura em que os Delfins pararam de gravar. Nunca foi minha itenção de ter uma carreira a solo paralela ao grupo. Não, os Delfins eram o caminho principal. Hoje começo outra viagem, a viagem de quem já deu algumas voltas ao mundo mas que quer continuar a caminhar, até porque o mundo está sempre a mudar.
– Porque foi o tema PRECIOSO escolhido como o single de lançamento deste álbum?
Acho que pela letra e pela explosão pop do seu refrão. É o emblema deste álbum. Achei ideal começar uma carreira a solo com a frase “Quantas voltas são precisas/ P’ra escolher um só caminho/ e sentir que é meu p’ra sempre”.
– PRECIOSO já é cantarolado por muitos portugueses. Sente orgulho por saber que em tão pouco tempo este tema parece caminhar na direção da popularidade de temas como “Saber Amar” ou “Sou como um rio”?
Sim, claro! “Precioso” já é um dos momentos mais altos do espetáculo! Há uma altura em que nos perguntamos se ainda teremos a chama necessária, se ainda teremos algo a dizer aos outros. Eu acho que enquanto tiver algo a dizer a mim próprio terei certamente a mais alguém. Podem ser muitos, podem ser poucos. Mas interessa-me mais a qualidade da comunicação do que a quantidade. Quando somos abençoados com a quantidade, mais do que orgulho, há o agradecimento.
– “(…)Para este princípio de ano escolheu um reputado conjunto de teatros e auditórios como destino dessas novas canções, revisitando aqui e ali alguns êxitos de sempre.(…)”. Não receia que os grandes êxitos dos Delfins possam “abafar” as canções de PRIMEIRO?
Esse receio dissipou-se o ano passado, nos espectáculos de “aquecimento” que dei para esta digressão. E se a maior parte deles foram em recintos pequenos, na Baía de Cascais toquei para quase 30 mil pessoas! E foi bom ver toda a gente muito receptiva às novas canções, que por seu lado casaram muito bem com as antigas. Foi aí que optei por misturá-las na lista do espectáculo. Como se não houvesse tempo, como se esta história acontecesse toda ao mesmo tempo, ali naquele palco. E foi um êxito.
– Pretende um espectáculo mais intimista ao optar por teatros e auditórios?
Sim, são sítios de excepção para tocar inéditos e para conviver mais intimamente e familiarmente com o público. Acabam sempre por ser espectáculos muito reconfortantes. Há sempre duas ou três gerações na platéia, há sempre histórias locais a puxar pela memória.
– Introduz neste álbum novas sonoridades, novos instrumentos. Fale-nos um pouco sobre esta opção.
Quando comecei a compôr “Primeiro” reduzi-me a uma guitarra acústica, palavras e melodias. Comecei com uma toada mais folk (e até country, bem presente no EP “Ray’s bar”, só disponível digitalmente), e mais tarde senti a necessidade de outras sonoridades, mas sempre no âmbito do acústico: o violino, o violoncelo, o acordeão, a tuba… Queria criar um som quente e orgânico para este mundo digital onde a música é ouvida em headphones e no youtube.
– Quais os músicos que o vão acompanhar nesta “viagem”?
No baixo o meu companheiro de sempre, o Rui Fadigas, nas guitarras o Mário Andrade(eléctrica) e o Rogério Correia(12 cordas acústica), na bateria o Samuel Palitos e no violino a Dalila Marques. Este é o grupo base, aumentado nalguns espetáculos mais centrais com outros instrumentos e mesmo um coro gospel.
– Continua o seu público a ser o mesmo público dos Delfins? O mesmo não, porque há gente muito nova. Mas acho que será em parte um público descendente dos Delfins mais outro novo que se aproximou pelo “Precioso”. Vamos ver, nesta digressão!
– Para si o seu público é PRECIOSO ou Receoso?
Não há dúvidas sobre isso, não é?
– Tem o mundo inteiro à sua espera?
Todos temos. Temos é que largar o sofá, sair de casa e ir à rua abraçá-lo.
– O espectáculo no próximo dia 26, em Beja no Pax Júlia Teatro Municipal, vai deixar “saudades do futuro”?
Espero que sim, sou pouco dado a nostalgias. “Os melhores anos das nossas vidas são os que hoje nós vivemos”, alguém disse e eu acrescento também os que virão.
– Na sua última atuação em Beja, em Fevereiro de 2006, deixou boas recordações nas memórias do público de Beja. Que memórias guarda Miguel Ângelo daquela noite fria, que aqueceu num serão intimista e bastante aprazível ao som de canções cantadas com corpo e alma?
Belas memórias e essa é uma das razões porque nem pestanejei quando se teve de acertar a primeira data da digressão. Além disso lembro-me muito bem que os Delfins, mesmo no início, tocavam muito no Alentejo. E já que estamos a falar em começos e recomeços…
– Para os muitos apreciadores do seu trabalho em terras alentejanas, gostaria de lhes deixar alguma mensagem?
Gostaria de convidá-los para este serão muito especial. Será um prazer reencontar alguns, reconhecer outros e descobrir muitos outros na noite de 26 de janeiro. A vida é isto, não é? Vamos então celebrá-la com canções, por mais fria que esteja a noite ou por mais enevoados que estejam os nossos dias e a nossa esperança. Há muito a fazer. E vamos colorir com música.
E ainda bem que o mundo não acabou, pois assim ao aceitarmos o seu convite certamente nos iremos deliciar a ouvir as canções que transporta consigo e, depois brindá-lo com todo o calor e boa disposição que os alentejanos tão bem sabem dar. Muito obrigado!
Entrevista realizada por Kiki Carvalho Azenha
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