A Equação
Estamos a viver, por estas semanas, uma fase de contestação, bastante mediatizada, um pouco contra tudo e contra todos. Grita-se contra o governo, contra os políticos, contra a troika ou contra o FMI.
Qualquer reflexão sensata chegará à conclusão que, no final, apesar de ser inteiramente legítimo fazê-lo, nada disto conta verdadeiramente para alterar a realidade dos factos. Nada disto vai apagar a dívida, diminuir o défice do Estado, criar riqueza ou mais empregos e recuperar poder de compra de todos nós, extremamente penalizado ao longo dos últimos anos.
Podemos gostar ou não gostar da receita aplicada por este governo, fazer uma avaliação mais ou menos positiva dos resultados, mas não podemos substituir a realidade, sintetizada numa equação: o país não pode gastar sempre mais do que a riqueza que produz. Ponto final. O desprezo por esta equação, ao longo das últimas décadas (e de forma grave, nos últimos 7 anos), conduziu-nos à situação que temos hoje: uma dívida de 180.000 milhões de euros que nos impede de aceder aos mercados e sobrecarrega de modo insuportável as nossas contas mensais. Os mercados financeiros, onde pedimos emprestado, fecharam a torneira e, quer gostemos ou não, vivemos agora dos milhares de milhões de euros que a troika nos proporciona regularmente, por tranches.
Então, que opções temos? Os mais radicais querem rasgar o acordo de assistência financeira, não apresentando, contudo, a solução sobre onde ir buscar o dinheiro para o Estado continuar a pagar salários, pensões e contas aos seus fornecedores. Existem alguns que pedem mais tempo e mais dinheiro, não se percebendo, no entanto para que serviriam ambos…seria apenas para prolongar o sofrimento?
Para equilibrar a equação mencionada, de modo sustentável, só existe na minha opinião um caminho. Libertar uma boa parte da riqueza nacional que é consumida pelo Estado e deixá-la à economia, para que consumidores e empresas possam fazer as suas opções de investimento. Isto implica corte substancial da despesa…e não pode ser apenas pelos quase simbólicos cortes nas fundações, nos carros de serviço ou nos assessores: terá de ser mesmo através da redução de organismos e recursos humanos que não são indispensáveis às funções do Estado. Por mais doloroso que seja, no curto prazo, por muito que alguns gritem que é inconstitucional, não me parece que exista alternativa. Naturalmente, haverá que gerir e mitigar o custo social desta ruptura – fazendo-a com equilíbrio e gradualmente. Mas há, acima de tudo, a obrigação moral de assegurar que o Estado mantenha os recursos básicos para as suas missões fundamentais e para o apoio aos mais carenciados.
Por muitas manifestações que se façam, por muitas greves que se marquem, por muitos comentadores que surjam sempre com uma crítica nova, a matemática não muda. Ou resolvemos a equação ou a equação acaba por nos condenar…A resposta ainda está, por enquanto, nas nossas mãos!
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