Ana Beatriz Calado

Por em 13 de Outubro de 2023

Foi na escola que todos aprendemos e a próxima geração?

A educação tem de ser um tema debatido regularmente pela importância para a renovação
das gerações, nos últimos dias para além do debate parlamentar, assistimos, infelizmente, os
docentes na rua a manifestarem-se por tanta coisa que não está bem.
Este estado de coisas, acarreta assim inúmeros problemas diários na vida das famílias, porque
os seus filhos não têm aulas e muitas são as vezes que não existe professor/a para a
disciplina/cadeira que está estipulado no seu horário. Ou seja, a luta dos professores pelos
seus direitos é uma questão que afeta milhares de famílias, mas principalmente os alunos que
ao não terem aulas ficam em falta com os conhecimentos que deveriam adquirir. Falha do
governo, que não sabe ouvir os professores, ignorando-os, enquanto criaram uma situação de
dificuldades para aos alunos que deviam estar a ser instruídos.
São cerca de 90 mil alunos que não tem professores, isso significa que existem falta deles. E
porque será? Talvez porque os professores tiveram 9 anos, 4 meses e 2 dias com a sua carreira
congelada sem a sua progressão na carreira, a valorização da educação é precária e instável, os
professores ficam alocados a uma escola a muitos quilómetros de casa, sem poderem ver os
seus filhos, companheiros e familiares.
Os salários são equivalentes a nada, porque quando ficam longe de casa têm de alugar um
quarto, mais alimentação e ainda tentar mandar alguma parte do seu salário para casa. Sim
um adulto, com uma profissão que todos nós precisamos, pode viver nestas condições em
Portugal no ano de 2023.
Em 2018 o Governo decidiu restituir 30% do que lhes foi roubado, ou seja, 2 anos, 9 meses e
18 dias aos docentes. Claramente é uma doação, porque lhes foi retirado o que era próprio do
seu esforço e trabalho e até agora ainda não ouvi nenhum dos assaltantes a pensarem em
como se pode restituir os restantes anos que faltam, para que esta pedra no sapato deixe de
incomodar tantos cidadãos portugueses.
A banda “Quatro e Meia” venceu um globo de ouro, no passado dia 1 de outubro, com a
categoria de melhor canção intitulada: “Na escola”. A sua letra reflete o que todos nós
sentimos, parafraseando os mesmos: “Foi na escola que aprendi /Sobre plantas e animais/
Dividi, multipliquei/Com três casas decimais; hoje sei quais são as rochas/ Que se formam nos
vulcões/ Fiz ditados, li poemas/ Pontuei as orações; E de todas essas coisas/ Que na escola eu
aprendi/ Nem um apontamento houve/ Pra me preparar para ti”.
Será que não temos todos que agradecer por todo o conhecimento que nos transmitem? Será
que não temos todos de levar esta luta de forma unanime e fazer todos os possíveis para que
esta não seja uma luta apenas dos professores? Foi na escola que todos aprendemos e a
próxima geração?
Foram apresentadas várias propostas para a educação e adivinhem? Quase todas chumbadas.
Mas falarei de uma muita específica.
A proposta que trago é a criação do estatuto do Estudante praticante de atividades artísticas
no ensino superior, um tema que gostava que voltasse a ser debatido para ter um consenso
alargado, pela sua importância. Sei que para muitos não deve fazer diferença, nem tão pouco
têm interesse, mas saberão quanto custa tirar um curso superior nas atividades artísticas? Eu
quero acreditar que não, pois são cursos que não se iniciaram ontem. Falo então, por exemplo
do meu curso: Mestrado integrado em Arquitetura.

É um curso que não é acessível a todos, pelos custos inerentes à sua prática diária nas aulas.
São precisos vários materiais, como esferovite, cartão, colas, x-atos e lâminas, plotters,
computadores cujo processadores tem de ser elevados para que aguente o peso dos
programas indispensáveis à prática da mesma, parece que estou a falar de coisas baratas, mas
estou precisamente a falar de materiais que são fundamentais todas as semanas, com um
custo que ronda os 60€ semanais, de um computador que custa mais de 2000€ e por norma
não existe nenhum que dure o curso todo. São 5 anos de aulas e materiais, tirando o tempo
para a elaboração da dissertação de mestrado.
Pois é, o governo não teve tempo para fazer as contas, certo? Eu facilito o trabalho. São cerca
de 1740€ (29 semanas de aulas) por ano, sem contar com avaliações finais, apenas uma
maquete pode ter o custo de 200€, mais o custo do computador, das impressões na plotter.
O valor das propinas, o arrendamento do quarto e a alimentação. Falamos então de 8700€ só
de material para as aulas durante os 5 anos, resumindo, se juntarmos o preço de mais 2
computadores (4000€), o valor das propinas (697€) e o valor do quarto com o valor de 300€ o
resultado será 17985€. Sem contar com alimentação e outras despesas do dia a dia, ou de
algum material extra.
Pois é, infelizmente esta medida foi chumbada e muitos não conseguem atingir o sonho de
entrar em arquitetura ou têm de desistir a meio do percurso.
Deixo para reflexão, o que queremos da educação do nosso país?
Não temos de ter medo de mudar, temos de ter medo é de continuar neste registo!

Ana Beatriz Calado
Estudante de Arquitetura na Universidade de Évora

Sobre Redacção Registo

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