Austeridade

Por em 10 de Novembro de 2011

Numa sondagem realizada há poucos dias 80% dos portugueses manifestaram-se contra a austeridade que resultará do Orçamento para 2012 caso este venha a ser aprovado, como tudo leva a crer.
No Parlamento a maioria no poder votará favoravelmente e o Partido Socialista abster-se-á violentamente, ou seja, 80% dos deputados viabilizarão as medidas contempladas no documento.
Nada de novo. A urna como é sabido, santifica o voto. Este deixa de ser uma intenção expressa num papelucho, e passa a ser pela força do seu conjunto, o desígnio nacional nos anos vindouros. Pouco importa se a maioria dos cidadãos nem se dá ao trabalho de participar no acto, tampouco importa se as pessoas caíram na teia de promessas mentirosas que os candidatos lançaram e alguma (quase toda) comunicação social espalhou de forma acrítica.
Depois, quando o manto diáfano da fantasia deixa de cobrir a nudez crua da verdade, é que são elas.
Descobrem-se culpados, protesta-se, rasgam-se as vestes em sinal de luto. Montam-se feiras, erguem-se palanques, bravata-se! Mas… nas primícias da repressão todos se escondem ou apontam o dedo ao vizinho do lado, todos encontram mil e um motivos para regressar a penates com o rabo entre as pernas e a catarse na barriguinha.
Aparecem então os iluminados peroradores do costume. “ Que não basta protestar só por protestar… há que apontar soluções,” como se a pulga esmagada pelo elefante, se preocupasse no seu protesto em explicar que a dor desapareceria se o bruto mudasse de lugar… Protesto é reacção a uma situação injusta e a injustiça é um valor absoluto. Não existem injustiças alternativas, existem isso sim múltiplas formas de a corrigir, mas, antes é necessário acabar com ela.
Para que os protestos façam sentido, o caminho a seguir só pode ser o da desobediência.
Há muitas maneiras de desobedecer, está bom de ver. Ou a ferro e fogo, através do confronto mais ou menos violento, criando o caos, destruindo sem contemplações tudo o que está instituído, para depois começar de novo sobre um paradigma diferente, desobedecer através da não participação, do alheamento total aos estímulos lançados pelo poder, não pagando transportes, impostos etç, ou então, desobedecer criando uma realidade que esvazie de sentido os fundamentos do Regime.
Como? Cooperando!
Se as grandes empresas de distribuição nos consomem o coiro e o cabelo… criemos cooperativas de consumo, sem termos de dar de mão beijada um lucro absurdo aos intermediários. Se as grandes empresas de distribuição têm na mão os produtores através de contratos leoninos, criemos cooperativas de produção. Se a Escola pública não dá resposta aos anseios dos nossos filhos, forçando-nos a matriculá-los no negócio do século que são as escolas privadas, criemos cooperativas de ensino, mais humanizadas, mais adequadas às necessidades deste nosso tempo… O mesmo com a saúde, com tantas outras áreas fundamentais do nosso bem-estar. Quando o sistema colapsar, e isso acontecerá mais tarde ou mais cedo, será essa a resposta, o caminho.
Não é fácil, será mesmo uma utopia para alguns de nós, mas se sairmos desta apatia generalizada, veremos que esta é uma opção sustentada.
Basta a vontade e a consciência que o caminho se faz caminhando.
Desobedeçam útil!

Sobre Miguel Sampaio

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