Capital ou Pátria?

Por em 9 de Março de 2012

Economia e Pátria nunca foram temas consensuais. Nas últimas semanas, factos variados trouxeram para a linha da frente as questões da propriedade ou da fiscalidade de empresas-chave da nossa economia. Por exemplo, as privatizações na área da energia (EDP e REN). Ou, já antes, a questão da mudança da sociedade da família Soares dos Santos, accionista da Jerónimo Martins, para a Holanda.

A velha frase de que “o capital não tem pátria” enche actualmente páginas de reflexões e indignações, muitas baseadas no maior cinismo ou hipocrisia. Ainda me lembro de há uns anos, um célebre manifesto em defesa dos “centros de decisão nacionais”, assinado por ilustres gestores e empresários que, passados uns meses, estavam a vender bancos e empresas a capitais espanhóis. Enfim, a velha máxima “olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço“ no seu máximo esplendor.

Por muito que possa chocar quem lê esta crónica, sim, é verdade, o dinheiro não tem pátria, move-se por critérios de racionalidade e eficiência económica. Procura segurança e rendibilidade, tal como qualquer indivíduo ou família, quando aplica o seu dinheiro em depósitos a prazo, certificados de aforro ou fundos de investimento. Vir falar de proteccionismos e patriotismos em matéria de dinheiro é uma discussão insípida e inútil.

Mas então, perguntar-me-ão, então é apenas o mercado puro e duro a funcionar e devemos ser meros espectadores? Não, não é. Se o capital financeiro não tem Pátria, já as Pessoas têm… e são elas o maior activo económico do século XXI, com as suas competências e o seu conhecimento. E, pelo menos por enquanto, os territórios também têm pátria, são objectivamente parte de uma nação. Assim, mais do que estarmos preocupados em variáveis que não podemos controlar era bem melhor pensar em dois factores, que influenciarão depois todos os outros: criarmos ou melhoramos os centros de competências nacionais e os centros de atractividade nacionais.

Primeiro, temos definir as competências em que queremos dar cartas, em que temos vantagens competitivas e queremos ter gestores e técnicos de relevo mundial: por exemplo, nas áreas das energias renováveis? Das tecnologias de informação ligadas à saúde? Nas telecomunicações e nas soluções de mobilidade? Em determinados segmentos turísticos? Nas indústrias ligadas ao mar? Quem tem competências, atrai investimento, riqueza e empregos – é algo que é evidente nesta questão.

Depois temos de que tornar o nosso território atractivo! Para além dos benefícios da geografia física, temos de trabalhar factores socio-políticos, como a flexibilidade administrativa, anti-burocrática, a justiça ou a fiscalidade. Como disse alguém há umas semanas, mais do que lamentarmos a partida da holding da Jerónimo Martins para Holanda, devemos tentar ser tão ou mais atractivos que a Holanda.

Quando partirmos destes pressupostos, talvez deixemos de lutar contra fantasmas e nos coloquemos o nosso esforço naquilo que é real e que, na verdade, depende essencialmente de nós.

 

Sobre Carlos Sezões

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