Deixem o ministro trabalhar!

Por em 2 de Novembro de 2011

Mais de 100 dias depois da posse do governo, com os sobressaltos que todos conhecemos, é natural que muitos saiam já da sua timidez e comecem a criticar o novo executivo pelo que fez, pelo que ainda não fez e pelo que deveria ter feito. É assim em democracia e não vem mal ao mundo por causa disto. Mas, claro está, mentes mais frias e tortuosas não atiram pedras ao acaso e é visível que o primeiro alvo para muitos é o ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira.
É à primeira vista, em abono da verdade, o alvo mais fácil. A economia portuguesa está no estado que conhecemos e, para alguns, o ministro deveria ser mágico e resolver em 3 meses o que muitos não resolveram em 10 anos. É independente, não tem peso partidário, é académico e, pelos vistos, demasiado humilde. Prefere ser apenas “Álvaro” e dispensa os formalismos de Senhor Ministro, Excelência ou Doutor, desafiando um certo conservadorismo que teima em reinar em Portugal.
Tem obra publicada e uma visão clara das vantagens competitivas de Portugal e (pecado capital neste país) até diz o que pensa. Depois tem um ministério extenso (tem economia, energia, transportes, turismo, obras públicas) e situações potencialmente melindrosas nas mãos. Neste último mês, já foi atacado por tudo. Por andar desaparecido e falar pouco, por ter ressuscitado o TGV, por não se decidir sobre a descida da TSU, por ter escrito há uns anos que gostaria que Portugal fosse a Florida da Europa, pelas privatizações (que ainda nem aconteceram), por estar supostamente a pôr em risco o emprego de muitos, facilitando os despedimentos…Enfim, por tudo e pelo seu contrário, pelo que é essencial e pelo que é acessório.
Apesar de sensível às preocupações que surgem de boa fé, a primeira reacção é esta: deixem-no trabalhar! Álvaro Santos Pereira pode ter mil e um defeitos mas, pelo menos tem uma agenda definida que irá operacionalizar ao longo de 4 anos. Não tem a postura de muitos dos seus antecessores que preferiam pavonear-se com grandes empresários, anunciando várias vezes projectos que depois nunca saíam do papel. Prefere, com recato e profissionalismo, trabalhar o contexto e as condições de atractividade da economia portuguesa em vez de andar em mediatismos fúteis. Os argumentos ou pretextos que reproduzi atrás ou mostram um misto de ignorância, como a confusão entre alta-velocidade e alta prestação ferroviária, ou imobilismo, na questão do emprego, de quem não percebe que o mundo mudou muito nestes 15 anos, enquanto os nossos manuais de economia e os discursos se mantiveram os mesmos.
Concordo inteiramente com as linhas estratégicas que Santos Pereira tem para a economia portuguesa. Não sei se as conseguirá concretizar. Penso que merece, contudo, as condições e o tempo para tentar.

Sobre Carlos Sezões

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