E o que é que a política tem a ver com isso? Tudo!

Por em 27 de Julho de 2012

Na passada quinta-feira voltou a discutir-se o conceito de cidade educadora, desta vez sob a perspectiva da visão dos partidos políticos com assento na Assembleia Municipal.

Não era de estranhar que, de uma forma ou de outra, os quatro representantes dos partidos concordassem sobre o conceito, sobre a necessidade de percorrer caminhos que conduzissem à tal “utopia” da cidade que, na construção da teia de relações que vai estabelecendo, se vai transformando em cidade solidária, inclusiva, participativa, crítica, interventiva e de cidadania plena onde o medo seja uma referência que se vai buscar às estórias infantis e não uma vivência diária.

Se não saíssemos daqui seriamos levados a pensar que os cidadãos organizados em partidos políticos (a adesão voluntária a um partido político não retira a cidadania a ninguém, apesar de alguns o pretenderem fazer) se poderiam juntar numa espécie de clube de reflexão e por consenso delinear um programa de acção para empreender essa obra sempre inacabada da “cidade educadora”.

Mas a vida é um “pouco” mais complexa do que as elucubrações académicas sobre conceitos teóricos ideais e insiste em por à prova as intenções de cada um nas escolhas que inevitavelmente se fazem.

E é aí, no campo das opções do dia-a-dia, que as águas se separam e o caldo se entorna.

Évora faz parte de uma rede internacional de cidades educadoras desde 2000, mas será que as opções políticas e as práticas de gestão dos últimos anos estão a contribuir para a tal construção sempre inacabada ou, antes pelo contrário, estão a contribuir decisivamente para o afastamento dos cidadãos da gestão da coisa pública, a empurrar para a anonímia generalizada, garantindo um pseudo apoio de uma enorme massa acrítica sem opção de escolha?

A cidade quer-se educadora mas os poderes públicos não parecem saber o que fazer com o conceito, o que tem como resultado que a generalidade da população ignora que a sua cidade se pretende afirmar como educadora.

Concordámos todos com o que deve ser uma cidade educadora, mas é mais fácil defender a ideia que optar por levá-la à prática e poderemos até dizer que a gestão do PS na Câmara de Évora tem contribuído de forma decisiva para esse insucesso.

Poderemos afirmamo-nos como cidade educadora quando verificamos uma deterioração generalizada da limpeza do espaço púbico? Quando o poder político local opta por tratar os agentes da cidade organizados em associações culturais, desportivas e sociais como uma espécie de párias que apenas pretendem receber subsídios? Quando opta por investir em espaço privado, como aconteceu com a Praça de Touros, em detrimento da recuperação do património público? Quando a ideia de Évora Cidade de Cultura é reduzida a uma mera caricatura? Quando a participação dos cidadãos é promovida, apenas e só, quando formalmente a lei o exige e ainda assim de forma o mais discreta possível como aconteceu com a discussão pública da revisão do PDM?

Certamente que não. É fácil encher a boca de cidade, de cultura, de educação. Difícil é compatibilizar a prática com as boas intenções, em particular quando a prática corresponde a uma forma de estar na política que pouco ou nada tem a ver com as “boas intenções”.

A cidade educadora construída pelas relações de cidadania não pode ter nos agentes políticos eleitos um travão, mas sim elementos potenciadores dessa construção. E é aqui, na prática das opções políticas, que se deve centrar a discussão.

Alguém me disse um dia “não é por dizer cem vezes a palavra açúcar que se me adoça a boca”. Mutatis mutandis (fica sempre uma coisinha em latim para dar um ar de erudição) não é pelos ministros andarem de bandeira na lapela que são patriotas, não é porque a maioria que gere o município afirma a paixão pela cidade educadora que ela se constrói.

No debate o representante do PS disse que se tinha feito mais em Évora nos últimos 10 anos que nos 50 anteriores. Conhecendo-lhe a inteligência e o sentido de humor, certamente não me levará a mal que ache que deve ter havido um pequeno lapso naquilo que queria dizer. A realidade, que entra pelos olhos dos munícipes, recomenda que se “corrija” a alocução para “fez-se mais contra Évora nos últimos 10 anos do que nos 50 anteriores”.

 

Sobre Eduardo Luciano

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