Geração sem esperança ou gerações sem esperança?
Portugal tem hoje uma das gerações mais bem preparadas de sempre ao nível das qualificações académicas e profissionais. O crescimento do número de diplomados no ensino superior não tem sido acompanhado por uma estratégia de absorção das competências destes jovens. Alguns abandonam o país em busca de um novo rumo. Outros, ficam por cá, e ajudam a engrossar a dimensão da geração “nem, nem…”.
A estes jovens, com idades compreendidas entre os 15 e os 30 anos, é atribuído um denominador comum pela ausência de atividade. Não estudam, nem trabalham. Não se trata de um fenómeno social exclusivamente português. É um fenómeno social que se espalha por todo o mundo para caracterizar uma geração potencialmente bem preparada e sem qualquer projeto de vida.
A geração que não estuda, não trabalha, e vive um dia de cada vez, esteve este sábado representada numa das maiores manifestações realizadas em Portugal. Foi um sinal de civismo exemplar.
A manifestação do passado sábado, que se estendeu a outros pontos do mundo, foi convocada nas redes sociais sob o lema “Manifestação: Que se lixe a troika! Queremos as nossas vidas”. Ao protesto ocorreram gerações de todas as idades num duplo sinal. O sinal do descontentamento e o sinal da revolta silenciosa, mas massiva.
A eloquência da manifestação não pode deixar indiferentes os atores sociais, em particular, políticos e governantes. O que se disse no dia 15 não pode ser esquecido. É um uníssono do povo na rua apelando a uma espécie de salvação nacional, uma reconfigurada estratégia económica e política, e um retorno às pessoas no centro das atenções.
O nível de participação foi expressivo e superou outros movimentos sociais similares. Da análise do movimento social fica o repúdio face às medidas anunciadas (taxa social única, cortes nas pensões, etc.). Tão expressivo como a dimensão do protesto é a sua essência.
O descrédito face ao modelo económico vigente e a inexistência de uma alternativa centrada na vida das pessoas parece ser um erro crasso que está a abrir o caminho para o abismo social. É preciso re-estimular a promoção do bem-estar dos cidadãos e que a esperança se volte a instalar.
Ninguém pode ficar indiferente. A voz dos que se manifestaram e a voz dos que não estando presentes se revêm no manifesto, é um sinal inequívoco que não se pode enterrar a cabeça na areia e pensar que se está no caminho certo. Uma sociedade em que se persiste o erro não evolui. Uma sociedade que não valoriza as pessoas não tem futuro. Será este o caminho?
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