Gerir o dia-a-dia ou liderar o futuro

Por em 14 de Dezembro de 2011

Uma das coisas que sempre abominei na política partidária é a tendência, quase obsessiva, para a politiquice de curto prazo. No fundo, focar-se apenas em pormenores, fait-divers do dia-a-dia, tentar apanhar o adversário em contramão, explorar alguma inconsistência e dramatizar o discurso. Esta realidade, bem patente em muitos dos debates a que assistimos no Parlamento, provoca um ruído enorme, desproporcionado, incrementado pela comunicação social e, se tem algum efeito de entretenimento pontual, esgota a paciência das pessoas no longo prazo.
E perdemos, depois, a noção do que é importante. De facto, quando estamos focados que disse o deputado A ou a acusação do deputado B, ou a culpa do dirigente C não estamos a debater e a decidir a economia, a educação ou o modelo de apoio social que queremos para o futuro.
Tudo isto a propósito de declarações que li no último fim-de-semana, com testemunhos bastante lúcidos. De facto, um dos ministros do governo anterior pelo qual sempre nutri bastante respeito e consideração foi Luís Amado. Na sua pasta dos Negócios estrangeiros mas também nas suas intervenções na política nacional, sempre mostrou ponderação, responsabilidade e capacidade de discernir o que é essencial do que é acessório e dispensável. Pois bem, voltou a mostrar isso numa conferência em defendeu uma grande “coligação de vontades” – não para colocar mais partidos no governo, mas para haja acordos mínimos e estruturados para os caminhos de Portugal. No fundo, que a acção política não se centre hoje na conquista do poder ou no desgaste permanente do adversário. Que os grandes partidos, com a adesão e acção positiva do Presidente da República, se centrem em compromissos na defesa de valores centrais, neste turbilhão político que é a Europa actual: a liberdade, a democracia, o humanismo, a solidariedade social. Que se mostre, para o exterior, uma imagem de um país de convicções e sentido de responsabilidade. Que se mostre que sabemos o que queremos e que estamos dispostos a sacrifícios temporários, em prol de uma visão de desenvolvimento futuro numa Europa mais integrada.
Quem continuar a fazer a política da demagogia e da gritaria, como se estivéssemos há 5 ou 10 anos atrás, mostra que não percebe o momento em que vivemos e não merece o cargo político que ocupa. Luís Amado, no seu tempo, era uma voz quase isolada num oceano de irresponsabilidade. Esperamos que neste ciclo politico, no lado do poder e também do lado das oposições, haja uma larga maioria de pessoas com sentido cívico e de estado, à altura dos desafios. E, em vez de gerir o dia-a-dia, tentarmos liderar o nosso futuro.

Sobre Carlos Sezões

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