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Interacção social e subordinação tecnológica

Desde a génese da humanidade que o homem se organizou em grupos com os quais estabelece signos, cria tecnologia, estabelece laços afectivos, sustenta relações sociais e económicas, cria mecanismos de aprendizagem e estabelece tipos de comunicação, tendo como base os contactos e os processos sociais que o aproximam ou o afastam, gerando formas e dinâmicas de interacção social.
Se Gutenberg (1397-1468) revolucionou a forma como a informação e os conhecimentos passaram a ser disseminados na Europa e no mundo, as tecnologias da modernidade vieram consubstanciar um novo espaço de comunicação, organização da sociabilidade e transacção da informação e do conhecimento.
Hoje, auscultadores nas orelhas, downloads de músicas de um qualquer site, um like no Facebook sobre uma determinada preferência ou estado, um sms a combinar um encontro, são alguns episódios que marcam uma nova configuração da interacção social.
Extremamente ocupados e em interacção sistemática com a máquina (MP4, IPad, IPhone, entre outros) os actores sociais vivem numa nova e complexa interacção social. Emails, sites sociais, institucionais ou de outras configurações, são hoje traços para uma interacção social virtual incontornável e que caminha para uma complexidade vertiginosa. Mesmo quando o encontro é face-a-face, o correio electrónico ou o sms, estão presentes, e são sustentáculo da planificação da acção.
O “Em que estás a pensar?” do Facebook é um sinal dos tempos e que desnuda o nosso pensamento, evidencia um estado e consubstancia uma interacção social sustentada numa rede de contactos que sabemos onde começa e, dificilmente, saberemos onde irá terminar. Através desta potencialidade, é literalmente possível saber o que alguém está a fazer, sentir ou pensar, aproximando distâncias, economizando tempo aproximando o homem deste cenário de subordinação da tecnologia.
Apesar da discussão sobre o uso (e abuso) da tecnologia não se esgotar nestas linhas, é certo que a intensidade desta hiper-realidade pode contribuir para ambientes incontroláveis, esquecimento de si mesmo, dissociação das necessidades de alimentação, trabalho, sono, construindo um nível de absorção desmesurado do ciberespaço.
A subordinação tecnológica pode ser avaliada através de alguns indicadores de frequência. Quando um actor social apresenta uma propensão para comprometer a sua vida pessoal, tais como relações familiares, actividades profissionais, escola, amigos ou os momentos de lazer para além da tecnologia, estamos perante um quadro preocupante, em que a tecnologia condiciona patologicamente a acção humana. Por outro lado, quando se pensa em reduzir a frequência da realidade virtual (jogos online, redes sociais online, blogs, etc.), mas não se consegue, estamos perante um factor de impotência e um quadro de ansiedade, sentimento de vazio e de internet addiction, pathological internet use ou internet addiction disorder, entre outras designações, recorrentemente utilizadas para sintetizar um estado de subordinação tecnológica.
O comportamento de dependência da tecnologia em geral torna-se uma fonte de sofrimento, pois os actores sociais dependem de algo, que já não é feito por prazer, mas por uma necessidade incontrolável, com efeitos colaterais no trabalho, estudo, família e nos momentos lúdicos do face-a-face. O problema não está na tecnologia. Mas sim, no padrão de uso incontrolável e na potenciação da subordinação.
Esta subordinação e dependência das tecnologias em geral e, da Internet em particular, ocorre em função do tempo dispendido e, de certa forma, na intensidade que incutimos na substituição das actividades sociais do face-a-face tradicional. Esta dependência pode ser encontrada em qualquer faixa etária, nível escolar, classe social ou profissão. Há medida que as tecnologias vão conquistando um espaço cada vez maior no nosso quotidiano, as nossas rotinas de vida materializam-se em contactos mais ou menos intensos com estes símbolos dos tempos.
Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, em 2010 continuou a aumentar a proporção de agregados domésticos com acesso ao computador, ligação à Internet e utilização de banda larga em casa. Grande parte dos jovens com idades compreendidas entre os 10 e os 15 anos acedeu todos ou quase todos os dias à Internet. Igualmente, aumentou a proporção de indivíduos entre os 16 e os 74 anos que efectuaram comércio electrónico. Dos agregados domésticos residentes em alojamentos não colectivos no território nacional, 59,5% tiveram acesso em casa a computador, o que significa um aumento de 3,5 pontos percentuais, quando comparado com o ano anterior. Por regiões, verificaram-se acessos a computador e ligações à Internet, em casa, superiores à média nacional em Lisboa, Algarve e Regiões Autónomas dos Açores e Madeira. O Alentejo é a região do país que apresenta a situação mais desfavorável, inferior à média do território nacional.
Com esta massificação da Internet, abriu-se o caminho para uma imensidão de transacções electrónicas, sem sair de casa. Ao nível das compras online o crescimento tem sido bastante significativo. Segundo o INE, em 2010, para além do aumento da proporção de indivíduos que efectuaram comércio electrónico, verificou-se que a compra de viagens e alojamento continuou a ser dos serviços mais solicitados (40.6%), seguindo-se os serviços de telecomunicações (34.5%) e encomenda de livros, revistas, jornais e material de e-learning, bem como roupas e equipamentos desportivos.
Neste breve análise, não podemos esquecer que esta mudança é inevitável, faz parte de um processo muito maior que é a globalização. Esta mesma tecnologia, que serve para tantas funções e tarefas do quotidiano, também funciona como um elemento de distanciamento social e de quebra da elementar interacção social entre actores. Quais os impactos da tecnologia? São iguais em todos os actores e territórios? Quem controla? São meras perguntas que o tempo se encarregará de responder. Para já, é certo, esta nova interacção social de base tecnológica apresenta virtualidades e perplexidades que estão a alterar os nossos modos de vida.
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