Major Velez Correia

“NÃO HÁ NADA P´RA NINGUÉM”
E não é que os bejenses ficaram muito satisfeitos?! Não fizeram uma festa porque o Covid-19 não o permite. Se o permitisse, até havia fogo de artifício. Mas cá o velhote não vai em conversas e não ficou satisfeito e nem entraria na festa sem máscara ou viseira, pois isto não passa de promessas para iludir os alentejanos. Mas vamos à notícia. O senhor Ministro da Defesa, João Cravinho, afirmou recentemente que a cidade de Beja vai beneficiar bastante do investimento da Força Aérea Portuguesa durante os próximos anos na Base Aérea daquela cidade. E fez uma série de promessas como a transferência da Esquadra de aviões Épsilon e, em jeito de novidade, anunciou também que virão para Beja os grandes KC-390 que Portugal acordou comprar à construtora brasileira EMBRAER e que irão aterrar em Beja, mas o primeiro lá para 2023! Portanto, segundo o Sr. Ministro da Defesa, tal significa que mais de uma centena de militares e suas famílias virão para a cidade capital do Baixo Alentejo. Mais à frente diz que, qualquer coisa como 200 ou 250 militares, daqui por uns anos, estarão instalados (com as respetivas famílias) na região. Claro, continuou, que muito trabalho vai acontecer antes disso, ou seja, o Baixo Alentejo vai sentir (e de que maneira!) a presença dos militares afetos. Não sei se alguém se atreveu a questionar o senhor Ministro quando é acabada e aberta a autoestrada que vai ligar à A2? Quando é eletrificada a linha de caminho de ferro de Casa Branca a Beja? Isso eram algumas das questões que eu, com o devido respeito, poria ao senhor Ministro, como é natural. Mas não me admira nada que os alentejanos que o acompanharam na visita à Base Aérea ou, melhor dizendo, ao Aeroporto Alentejano, não se dignaram fazer, ou porque estiveram dormindo a sesta, ou porque ficaram tão eufóricos com as boas notícias que acharam melhor ficar calados e bateram até algumas palmas, suponho eu. “É com papas e bolos que se enganam os tolos”, diz o povo e com toda a razão. O senhor Ministro falou primeiro em 100 militares e respetivas famílias, mas como certamente multiplicou por 3, entendeu que 300 pessoas em Beja era muito pouco, logo aumentou para 250, pois 750 já é alguma coisa que se veja! Afinal um povo rijo e valente como foram os “alentejões” que acompanharam o Santo Condestável em Atoleiros, Aljubarrota e Valverde; que descobriram o Caminho Marítimo para a Índia sob o comando do alentejano Vasco da Gama; que arriscaram a vida contra o domínio espanhol em 1637 com a Revolta do Manuelinho, na cidade de Évora e que foi, sem sombra de dúvida, a semente da revolução que havia de germinar três anos depois, deixa-se agora levar pela conversa de um hábil Ministro da Defesa, que é um homem perspicaz e inteligente, pois com um discurso, provavelmente de improviso, veio ao Baixo Alentejo calar aqueles que andavam (e andam) a querer que o Aeroporto do Alentejo constitua uma alternativa ao Aeroporto Humberto Delgado ou Amália Rodrigues, como o homem do Chega já sugeriu essa troca de nomes! Não se deixem levar! O tal primeiro avião só virá daqui por uns três anos e os militares que não se sabe se são 100, 200 ou 250, nem todos trarão as famílias para o Alentejo. É uma grande ilusão. Beja e o Alentejo desenvolver-se-ão, sim, se o aeroporto ficar cada vez mais perto de Lisboa, com uma linha de caminho de ferro devidamente eletrificada, com a autoestrada pronta a funcionar e com excelentes autocarros no transporte dos passageiros que cheguem de diversas partes do Mundo. Sem isso, como diz a cantiga, “Não há nada para ninguém” e o Alentejo continua a.… chuchar no dedo. Esta é que, quanto a mim, é a grande verdade, bom povo do Alentejo.
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