O bom aluno ou o aluno aplicado?

Por em 6 de Setembro de 2012

As conversas em torno do bom aluno multiplicam-se com intensidade nos vários quadrantes. Este discurso metafórico, sobre os desafios da nação face aos compromissos assumidos com a troika, recorre a uma mitologia académica que procura construir um modelo de estudante que sirva de referência para os seus colegas. O bom aluno pode ser alguém que gosta muito de estudar, ou gosta muito de aprender, tem bom aproveitamento, evita conflitos, entre uma imensidão de tipificações de discutibilidade sem consenso sobre o que é ser bom!

Este primeiro ano da terceira intervenção externa em Portugal dos últimos 30 anos tem tido um impacto extremamente violento no país. Esta condição de bom aluno tem levado Portugal viver a recessão mais profunda da sua democracia (queda do PIB de 4,8% entre 2011 e 2012) com o consumo, investimento e confiança das famílias e empresas a registarem quedas e mínimos históricos.

A quinta avaliação que agora decorre, independentemente dos seus resultados, vem servir para reforçar a tese do aluno aplicado (que é bem diferente de ser bom aluno) em oposição ao mau aluno, que faz batota e não mostra aplicação na prossecução dos seus intentemos: a Grécia.

Ser o bom aluno é uma realidade que tenho muita dificuldade em descrever. Um aluno pode ter bom aproveitamento e não dominar as matérias. Um país pode reduzir o deficit e não resolver os problemas estruturais. Um aluno pode ser aplicado, ter boas notas, mas não dominar a regras elementares de interação com os seus colegas. Um país pode ficar bem face ao exterior, mas as suas gentes podem viver dias de amargura. Um aluno pode fazer grandes sacrifícios no seu estudo, não ter aproveitamento, e ser aplicado. Um país pode fazer uma redução brutal nos salários, nas pensões e ter um efeito perverso com efeitos no crescimento e na receita. Enfim, há possibilidades para todos os gostos.

São estas perplexidades que tornam difícil classificar esta realidade do bom aluno. Não havendo opção face à herança assumida do populismo dos antecessores, este Governo não tem alternativa de não ser um aluno aplicado à medida do professor, seguindo as regras negociadas em “turma” e honrar um compromisso assumido, fundamental para a consolidação da sua imagem exterior de aplicado e responsável.

Portugal vai conseguir ultrapassar mais esta etapa. Alguns efeitos já são visíveis. Registo aqui um de consciência. Em 2011 houve um desaparecimento de 135 mil filhos das declarações de IRS e a redução da despesa com medicamentos. Não se pode dizer que os portugueses não têm imaginação. E não foi a troika, nem o Governo, que criou tamanho exercício de criatividade para sacar alguns milhares de euros, neste caso, ao Estado. Afinal, somos todos tão bons alunos!

 

Sobre Joaquim Fialho

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