Os “Tudólogos”

Por em 13 de Dezembro de 2012

Acho que não é novidade para ninguém a grande dimensão do mercado de comentadores em Portugal. Fruto talvez da necessidade de aparecer e ser vista, qualquer personalidade que se preze opina sobre tudo o que mexe. Seja num jornal, numa rádio, numa revista cor-de-rosa ou num blog obscuro na internet. Enfim, em qualquer lugar em que tenha uns minutos de tempo de antena.

Quanto aos assuntos….tudo serve! Desde futebol à política, de educação à saúde, da moda do próximo inverno às eleições americanas.

A liberdade de expressão e de opinião é algo salutar e nada tenho contra aqueles que se entusiasmam a debater temas apaixonantes ou aqueles que, não sendo especialistas de um tema, dão a sua legítima opinião. É isto que “dá sal”, é isto que anima uma sociedade democrática. Eu próprio, através deste meio o tento fazer e com muito gosto.

O problema são aqueles que, sem qualquer base científica, sem trajecto reconhecido na área e sem qualquer preparação para além de uns minutos de leitura na diagonal sobre um tema, opinam de forma decidida e veemente sobre uma determinada realidade e propõem, convictos, um veredicto ou uma solução.

Exemplos são muitos e variados. Nos últimos meses, Portugal ganhou milhares e milhares de especialistas em macroeconomia e finanças públicas – basta ouvir as críticas ao orçamento ou à política de redução do défice. Ganhou umas centenas de autoridades científicas em política fiscal. Ganhou inúmeros especialistas na gestão do serviço nacional de saúde! E ganhou fantásticos experts que sabem, como ninguém, promover emprego e fazer crescer a economia! Curiosamente, são sempre os mesmos, génios que escrevem ou falam em público, que conseguem fazer tudo isto e muito mais. São os chamados “tudólogos”, formados em “tudologia”, especialistas em tudo…o que equivale a dizer especialistas em nada.

Tudo isto seria inocente e inofensivo se estes tudólogos mantivessem os seus hábitos e as suas certezas absolutas no recato das suas casas ou no café do seu bairro. Ou no seu blogue, lido por 6 ou 7 amigos. Mas, infelizmente, uma vaga de tudólogos invadiram lugares de importância na nossa sociedade. Vemo-los a dirigir jornais e a escrever artigos de opinião absurdos, condenando ou divinizando qualquer posição, política ou personalidade. Vemo-los a comentar na televisão com uma postura de certeza e infalibilidade. Vemo-los como deputados no parlamento, com discursos redondos sem a mínima base de sustentação. Vemo-los, enfim, como líderes da oposição ao governo, com frases ensaiadas ao espelho que não sobreviveriam a 3 minutos de análise séria.

Uma das melhores qualidades que um ser humano pode ter é a humildade, a auto-consciência de saber que existe uma grande probabilidade de incerteza em qualquer acção ou decisão. É ter a noção que, na política, economia ou sociedade, não existem certezas absolutas e que, apenas com milhares de horas de experiência num tema, se pode ser minimamente credível e, eventualmente, bem-sucedido. De facto, bom-senso e algum estudo prévio fazem bem a toda a gente!

 

Sobre Carlos Sezões

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