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Parem o mundo que quero sair
Se me pedissem para escolher uma frase que quase parece minha por tanto a usar, a escolha recairia, provavelmente, neste “parem o mundo que quero sair”. Esta é uma das expressões que mais uso sempre que me deparo com situações e/ ou comentários que me parecem desadequados, incorretos ou tristemente errados. E, infelizmente, tenho notado que estou a utilizar essa frase em crescendo não decorrendo um dia em que, se não a uso (para não me tornar enfadonha), pelo menos a pense umas duas ou três vezes!
A verdade é que nunca como agora se viveu numa sociedade informada sobre o mundo e sobre os seus acontecimentos. Tudo o que acontece de mais ou menos importante, aqui no bairro, no país ou no outro lado do mundo chega até nós à velocidade da luz. Ou, talvez seja mais correto dizer, “à velocidade da internet”. Um ataque bombista, um desastre natural, um acidente, um gesto de ajuda de uma família ou de uma comunidade a alguém ou a um povo em sofrimento…absolutamente tudo aquilo que se considere remotamente interessante para o ser humano é visto, filmado, analisado e comentado para o público em poucos minutos. Portanto, se há algo que este “mundo civilizado” não se pode queixar é de não ter acesso à informação. É claro que poderíamos colocar aqui a questão da fiabilidade dos meios de comunicação social mas não é esse o assunto sobre o qual me quero debruçar hoje. Hoje apetece-me analisar a nossa reação a toda essa informação. O facto de sabermos, se assim quisermos, de tudo o que se passa no mundo e o facto de termos redes sociais onde podemos expor, ao minuto a nossa opinião sobre esses acontecimentos, tornou-nos a todos, de um modo geral, o que poderíamos chamar de “treinadores de bancada”. Isto é, todos nós (começando por mim) sentimos que temos uma opinião válida e interessante para ser partilhada com o resto do mundo. E tudo isto estaria muito correto – afinal o que mais se pode pretender de uma sociedade que não seja ter cidadãos informados e interventivos? Digo, à partida: “nada”. Seria algo até muito positivo se os denominados “treinadores de bancada” não andassem tão zangados com o mundo. Penso que não estarei a dar novidade nenhuma ao amável leitor quando digo que grande parte dos comentários que lemos sobre os acontecimentos do país e do mundo são comentários inflamados, irritados e, não poucas vezes, rudes e ofensivos. Faça-se o que se fizer, proponha-se o que se propuser, a irritação está sempre latente. Vejamos: fala-se em receber refugiados ou em apoiá-los de alguma forma e o que ouvimos em comentários inflamados? Ouvimos que nos estamos a preocupar com os outros, que os nossos sem-abrigo também precisam de muita ajuda e não a têm. Chegamos a pensar, inocentemente, que grande parte da população portuguesa (ou pelo menos da população que utiliza as redes sociais) se preocupa, de facto, com os sem-abrigo do nosso país. Mas o que iremos ouvir nós quando a reportagem for sobre os sem-abrigo do país e sobre a necessidade de os ajudar a recuperar uma vida digna? Ora, ouvimos que esses “zé-ninguém” mais não são que uns preguiçosos que não querem trabalhar e que querem viver de esmolas… Curioso como a opinião mudou, não acham?!
Outro exemplo que poderia aqui citar são todas as reações zangadas que colhemos aqui e ali sempre que se fala da necessidade de ajudar animais de rua. Ou, pior ainda, quando se fala da necessidade de assegurar o seu bem estar físico e emocional. Surgem logo os comentários inflamados de que estamos numa sociedade às avessas em que se amam e mimam os animais e se esquecem os idosos nos lares. A ouvi-los parece existir uma estranha ligação entre animais e idosos. Gostar e tratar bem uns não permite que se goste e trate bem os outros!
A sensação que me deixam estes “treinadores de bancada” é que o importante é estar contra, é comentar de forma desagradável, é dizer “não”. Ficaria imensamente satisfeita se percebesse que essas pessoas que se insurgem contra os refugiados são pessoas que têm a convicção de ajudar algum sem-abrigo. Ficaria imensamente satisfeita se percebesse que essas pessoas que se insurgem contra a importância de cuidar bem dos animais, são pessoas que se preocupam, de facto, com o vizinho idoso ou com o parente que tem no lar. Ficaria imensamente satisfeita se achasse que essas pessoas se preocupam, de algum modo, em criar um mundo melhor. Mas, infelizmente, o que tenho verificado é que esses “treinadores de bancada” mais não fazem do que lançar diretivas, e por que não dizê-lo, invetivas, por trás do seu ecrã de computador. Esse é um lugar bem mais confortável. Atrás dele não se preocupam em ajudar quem quer que seja e necessite: idosos, vítimas de alguma tragédia, sem-abrigos, animais. Dessa forma, sem olhar para o mundo e para o sofrimento com olhos de ver, sem procurar ajudar (sequer) aquele que está ao lado e que poderá precisar, poderão sempre criticar quem tentou, de algum modo, auxiliar (quem ou o que quer que seja) a criar um mundo melhor.
Sempre que me deparo com essas atitudes de fúria e intolerância, aflora à minha mente a mesma frase, uma e outra vez: Parem o mundo que quero sair.
Estefânia Barroso (Professora)
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