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Tragédia ou Farsa?

Todos aprendemos nos livros de história (ou através dos nossos gostos literários) que a tragédia nasceu na Grécia clássica, umas centenas de anos antes do nascimento de Cristo. Esta forma de drama, que se caracteriza pela sua seriedade e dramatismo, envolvia frequentemente um conflito entre uma personagem e algum poder de dimensão superior, como a lei, os deuses ou um destino cruel e imutável. Incluía personagens à procura da sua glória, como heróis, reis, deuses e era contada em linguagem grandiosa, conduzindo o enredo a um final triste, com a destruição ou loucura de um ou vários personagens sacrificados por seu orgulho ou obsessão, ao tentarem remar contra as forças do destino.
Sinceramente, não sei se os grandes autores deste género como Sófocles e Eurípides teriam a imaginação para escrever uma história tão complexa, excêntrica e evidentemente trágica como a que sucede na Grécia e contagia a Europa e o Mundo.
Um povo de 11 milhões de pessoas, descrente, desorientado e revoltado. Um primeiro-ministro ávido por conquistar o seu lugar na história, inventa um referendo popular, legítimo e meritório na teoria, assustador na prática. Um líder da oposição, ambicioso pelo poder, que aprova ou rejeita planos de acção à medida das conveniências. As grandes potências europeias, autênticos deuses desta tragédia, impõem o ritmo dos acontecimentos, ora com aparente benevolência de quem corta metade de uma dívida, ora com o rigor de quem impõe os seus ultimatos. Um novo chefe de governo imposto pelas circunstâncias, aparece entronizado como salvador. E um mundo inteiro em suspenso, uma vez que um leve desenvolvimento neste drama traz impactos universais.
Nesta história, algo poderia marcar a diferença e evitar os destinos das tragédias do período clássico: a boa fé e o compromisso das várias partes e a certeza de que cada uma cumprirá o que dela se espera. Que não sacrificarão mais interesses globais a interesses pessoais. Que o bluff e a dissimulação vão deixar as mesas de negociação. Que se tomarão decisões corajosas, independentemente dos receios e preconceitos. Que se envolverão as pessoas no ideal europeu, em vez de dar a impressão que existem directórios obscuros que tudo controlam e tudo decidem. Quanto mais os povos europeus estiverem conscientes do que está em causa, mais facilmente aceitarão o caminho da integração. É que, ao contrário do que muitos pensarão, a decisão política continua a ser superior às contingências da economia.
Karl Marx disse um dia, numa frase feliz, que a história acaba sempre por se repetir, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa. Palpita-me, pois, que ainda não assistimos aos últimos capítulos deste notável enredo grego.
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