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Uma crónica dentro de outra

Como reacção a uma crónica que fiz para uma rádio local, onde manifestava o meu desejo de ficar por cá, apesar do marasmo em que os últimos 10 anos de gestão autárquica a mergulharam, recebi dois e-mails de um casal de jovens que escolheram a nossa cidade para trabalhar e viver.
Transmitiam-me o seu desalento por se encontrarem ambos desempregados, sem soluções que lhes permitissem sobreviver da forma digna que seguramente merecem.
Estendiam esta mágoa e revolta ao país que lhes nega a oportunidade de trabalho com direitos sem a precariedade que não lhes permite planear o próximo dia ou o próximo sonho.
A jovem acabada de ser atirada para o desemprego enviou-me uma “carta aberta ao país”. Perguntei-lhe se não quereria que fosse divulgada e a resposta veio rápida: só a coberto do anonimato porque tinha medo que as oportunidades de emprego ficassem ainda mais diminuídas.
Não resisto em colocar aqui, com a vénia que lhe é devida, o texto que me enviou, pelo que significa de estado de espírito de gerações de portugueses que não encontram futuro no seu próprio país.
É este o texto da “Carolina Santiago”, nome fictício porque, como ela me escreveu, “nem posso dar cara à minha revolta por medo de represálias”
“Querido País,
Lamento se te escrevo numa Língua que tu já não reconheces mas foi esta que me ensinaste. Estou aqui hoje para te dizer que a nossa relação está por um fio. Um de nós não está em condições de dar e outro de nós precisa de receber algo. Eu fiz tudo como me mandaste: Cresci, respeitei, estudei, melhorei o meu conhecimento do Mundo para melhor te conhecer a ti, investi numa educação para aplicar no teu território e pensei que isso era o que tu querias. Pensei que querias que eu crescesse a dizer com orgulho que era Portuguesa, pensei que uma das tuas maiores virtudes era o respeito – um respeito baseado em compreender e fazer-se compreender; estudei dentro de ti e resolvi fazer algumas viagens entre as quais algumas académicas para poder dizer que vivia num país que estimulava a educação, a tecnologia e a ciência e que tinha ainda muito para mostrar.
Enganaste-me!
Mostras-me agora que nada disto era verdade; não vale a pena pensar em estímulos à ciência quando nem sequer os aplicas à educação simples e vês jovens adultos a terminar a escolaridade obrigatória sem saber ler; mostras-me que a escola forma bons trabalhadores mas se calhar bons de mais para a grande maioria dos empregadores Portugueses ou sediados em Portugal e mostras-me, mais que tudo que não respeitas: não respeitas os teus idosos, não respeitas os teus jovens adultos e principalmente não respeitas as crianças que podiam crescer nos teus terrenos pois obrigas os futuros pais a ter de abdicar de ti para procurarem o mínimo de qualidade de vida (que hoje em dia é equivalente a ter trabalho que permita pagar contas e pouco mais) e, apesar de o dizer de forma envergonhada – fazes-me perder o Orgulho que tenho em ti, o Orgulho que tinha em dizer-me tua…
À tua traição resta-me apenas fazer uma coisa: virar as costas! Um amor não correspondido não pode ser considerado amor e já gastei contigo 29 anos da minha vida. Sim, gastei porque tu não os aproveitaste como devias.
Agora vou procurar um novo caminho no qual não te vislumbro nem à distância de anos. Se vou ter saudades, creio que sim! Mas o que sei e me magoa mais é que nem tu te lembrarás de mim.
Se algum dia pensarei em dizer-me tua novamente? Só o tempo o dirá.”
Minha cara “Carolina Santiago”, foi um prazer dar-lhe voz e embora eu não tivesse culpado o país pelo que estamos a passar, compreendo que o faça. Não deve ser por acaso que os novos figurantes deste filme de terror aparecem na televisão de bandeira portuguesa na lapela. Segundo uma certa mitologia, o absolutista Luís XIV afirmava L’État c’est moi. Estes neo-liberais pretendem confundir-se com o país.
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