“Visão”

Por em 3 de Fevereiro de 2012

Maior surpresa do que o convite para escrever um artigo neste jornal, só aquela que me assolou quando me foi pedida a repetição da proeza. Então lá vai disto…

Se restaram alguns equívocos na minha primeira intervenção neste simpático hebdomadário, melhor! Isso garante-me algum tempo até descobrirem a inadequação das minhas citações, a pobreza dos meus argumentos e, principalmente, a falta de ideias.

Vou continuar a citar a Bíblia, mais precisamente o Antigo Testamento num dos seus Livros mais interessantes que é o dos Provérbios: “Onde não há Visão o Povo perece”. Esta Visão de que aqui se fala é mais espiritual, no sentido da revelação de Deus de um desígnio para o seu povo, mas é perfeitamente aplicável, num sentido mais terreno e geral da nossa política.

Se entendermos a definição de Visão como uma declaração Clara, Profunda, Coerente, Desafiante e, se possível Mensurável, temos tudo o que nos tem faltado nos últimos 500 – 600 anos para não exagerar.

A Clareza é primordial, de forma a ser entendida pelo maior número de indivíduos possível, ter um carácter global, e não dar azo a equívocos, isto é, o contrário dos discursos de um antigo presidente.

Mas não se enganem, não pode ter a superficialidade das análises do “Engenheiro”, não tem que ser simplista ou ligeira, tem que ter uma Profundidade alicerçada numa percepção consistente e honesta da realidade.

Segue-se a Coerência, que só por si não é um valor essencial, basta pensar em Salazar e Cunhal, mas sem a qual nada fará sentido. Tudo isto tem que ser apresentado de forma mobilizadora, sem demagogia ou facilitismo, mas com realismo e verdade, Desafiando toda a sociedade, e exigindo a cada um na medida das suas disponibilidades com Justiça e Equidade.

A tudo isto falta o mais difícil, a Mensurabilidade que permitirá fazer uma avaliação dos resultados que permitirá corrigir mais facilmente desvios e distorções.

Não digo que não tenham existido Políticos com Visões interessantes, na nossa, ao contrário do que muitos insistem, já não tão jovem democracia mas, por uma razão ou por outra, não reuniam todas características que anteriormente descrevi, e assim foram condenadas ao fracasso.

Também não estou a falar de projectos que se imponham, mas sim que sejam aceites por uma maioria, e respeitem todos os direitos das minorias.

No século passado tivemos duas Visões que, de uma maneira ou de outra, aparentemente teriam todas as características mencionadas, mas só aparentemente: “Um Portugal do Minho a Timor!” e “Nem mais um soldado para as colónias!”.

Em ambos os casos as coisas não correram da melhor maneira, mas não nos devem levar a desistir da procura da nossa Visão. Não digo que seja fácil, mas não é impossível…

Sobre Luís Pedro Dargent

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