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“Éramos parceiros da troika”
Deputado socialista Carlos Zorrinho diz que o PS foi “afastado” de “quaisquer negociações” com a troika, cujo acordo subscreveu.
Carlos Zorrinho mantém o mais recente “tabu” da política portuguesa. Só na próxima semana se saberá como é o PS irá votar o Orçamento do Estado para o próximo ano, isto depois de o secretário-geral dos socialistas ter anunciado que apenas haveria uma possibilidade “mínima” de o PS votar contra.
A verdade é que as declarações de António José Seguro foram feitas antes de o primeiro-ministro ter revelado o conteúdo do Orçamento, com medidas entre as quais se inclui o corte dos subsídios de Férias e de Natal dos funcionários públicos e pensionistas.
Seguro passou a estar sob dois fogos cruzados: de um lado, no interior do partido, pressão para votar contra; do outro, na frente externa, no sentido de “não descolar” do acordo alcançado com a “troika”.
“Se o Governo continuar neste caminho, não facilita que o voto a favor de Portugal seja um voto a favor deste orçamento”, disse este semana Carlos Zorrinho, que no programa Praça da República (Diana FM/Registo) não foi mais esclarecedor sobre a forma como os deputados socialistas irão votar. Ainda assim, deixou uma frase que pode resumir o sentimento do PS: “Éramos parceiros da troika, fomos afastados de quaisquer negociações sobre isso”.
O líder parlamentar do PS, e deputado por Évora, diz que a “maioria está a começar a dissolver-se”, como o “comprovam” recentes notícias sobre divergências entre ministros e ameaças de demissão a nível de secretários de Estado, e acusa os ministros das Finanças, Vítor Gaspar, e da Economia, Álvaro Santos Pereira, de estarem a gerir o país como se fosse uma “candidatura” ao Nobel: “Se acertarem ganham o prémio mas estão a destruir a economia e a classe média”. Dois ministros com uma “cartilha ideológica muito forte e cega” que, na prática, estão a seguir o exemplo grego tomando sucessivas medidas de austeridade. Essa “não é a mezinha redentora que resolve os problemas da nossa economia”.
“Se se trava a economia, se as pessoas compram menos e pagam menos IVA, apesar de este ter uma taxa maior, se as empresas exportam menos, a receita baixa e o esforço de corte da despesa tem de ser muito maior”.
“Há opções de classe por detrás destas opções políticas”, diz por sua vez o deputado comunista João Oliveira. O deputado exemplifica com o recente apoio dos governos francês e belga ao banco Dexia através de garantias financeiras estatais no valor de 95 mil milhões de euros.
“Quando se diz que não há dinheiro para manter as condições de vida das pessoas, diz-se ao mesmo tempo que há para tapar buracos do sector financeiro. São opções de quem entende que os sectores financeiros têm de ser salvos e as condições de vida das pessoas podem ser postas em causa”.
Também no caso português, João Oliveira diz que não se pode pôr “no mesmo saco” toda a despesa do Estado, ao contrário da estratégia que tem sido seguida pelo Governo.
“De que encargos estamos a falar quando falamos genericamente na despesa do Estado?”, interroga. Isto porque “tanto cabem as transferências nos negócios milionários das parcerias público-privadas para entidades que recebem três e quatro vezes o valor do investimento que realizaram em nome do Estado como a recusa de transporte a uma doente oncológica de Montemor para efectuar um tratamento em Évora”.
“Só não faz diferença entre isto quem intencionalmente quer meter tudo no mesmo saco para tratar o serviço nacional da saúde e as prestações sociais como os encargos com a construção de auto-estradas”, resume.
O PCP já anunciou que irá votar contra a proposta de Orçamento do Estado para 2012, cua votação final global ocorrerá em Novembro.
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