“Temos de ser pragmáticos para obviar aos efeitos da crise”

Por em 2 de Novembro de 2011

Ceia da Silva, presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo em entrevista ao Semanário Registo.

Os indicadores relativos a 2011 continuam positivos para o Turismo Alentejo, com um crescimento sustentado do número de turistas. Isso deve-se à crise?
Há vários factores e esse pode ser um deles mas o aumento do turismo e a capacidade de resposta de uma região passa por aproveitar todos os cenários, todos os contextos que possam surgir. Interessa-nos que quem decide não fazer férias no estrangeiro venha para o Alentejo, não nos importamos nada com isso.

Desse ponto de vista a crise tem sido benéfica para o sector?
Eventualmente. Nós não temos sentido a crise no turismo. Mas não é só isso. Quem quer desvalorizar os números e refere que se ficam a dever à existência de uma maior oferta, de mais unidades, respondo que também é verdade. Nós tínhamos um hotel de 5 estrelas e vamos ter 6, a partir do momento em que for inaugurado o novo hotel em Vila Viçosa. Obviamente que na oferta turística tão importante é uma tasquinhas como um hotel de 5 estrelas …

Sendo que o ponto de partida era baixo.
Não era tão baixo quanto isso e não estamos a falar de crescimento em números absolutos mas de aumento percentual. O Alentejo tem mais oferta, as outras regiões também têm, mas fomos a região que mais cresceu em termos de procura [16,9% em Agosto, comparado com idêntico período do ano anterior]. Crescemos a oferta, mas o Algarve também, a oferta também cresceu no Norte e em Lisboa, todas as regiões cresceram mas a única onde a procura subiu de forma consecutiva nos últimos três anos foi o Alentejo.

Porquê?
Isso fica a dever-se à definição de uma linha estratégica que definimos para o Turismo do Alentejo. Estamos a seguir uma estratégia que tem a ver com a questão da identidade, reengenharia do produto, promoção forte e agressiva, rede de informação turística, boa política de acolhimento e hospitalidade, monitorização … nós seguimos uma estratégia que justifica o facto do turismo acrescer no Alentejo. É uma estratégia concertada com os empresários e com os autarcas, estamos muito no terreno e respondemos de imediato às alterações conjunturais da economia e do mercado.

O anunciado aumento do IVA na restauração é um exemplo?
É um exemplo. O turismo exige respostas imediatas. Não há nenhum sector que exija tanto profissionalismo como o turismo. Aqui temos de ser bons todos os dias. Há actividades profissionais em que podemos estar relativamente bem mas no turismo temos de ser sempre excelentes pois um turista que vai a um hotel ou a um restaurante quer que aquele seja o melhor dia da sua vida. Temos de ser muito exigentes.
Num mercado em constante evolução!
O mercado evolui a uma velocidade vertiginosa, ao segundo, e nós temos de acompanhar essa evolução. Chegámos à Entidade Regional de Turismo em 2008, ano da célebre crise do sistema financeiro mundial, e respondemos de imediato com a campanha ‘No Alentejo Há Mais’ que, pelo menos, serviu para mobilizar os agentes, para os motivar, para que não caíssemos em depressão. O Alentejo foi a única região de turismo que subiu [em número de visitantes].

E face ao desafio dos novos cortes orçamentais?
Bom, todos sabemos que os portugueses vão perder massa salarial em 2012, vão perder os subsídios de Férias e de Natal, o que me preocupa mais do que o aumento do IVA. O mercado português significa 75% de quota de mercado no Alentejo e esses cortes vão afectar as disponibilidades financeiras das famílias. Temos de ser muito pragmáticos, encontrar linhas de comunicação que possam obviar aos efeitos negativos da situação de crise.

Como é que isso se vai concretizar?
Vamos avançar de imediato com uma campanha – cujos contornos serão discutidos nos próximos dias com os empresários – em torno de um conceito que andará à volta disto: ‘Não deixe de fazer férias, o Alentejo convida-o’. Será uma campanha de vantagens que mobilize os turistas, os portugueses, com descontos, oportunidades, refeições oferecidas em unidades de alojamento ou muitas outras situações. Queremos dizer aos portugueses para virem ao Alentejo que temos em consideração a actual conjuntura e vamos disponibilizar um conjunto de serviços para tornar atractivas as férias na região.

Há recursos para isso?
Temos algumas ideias, conceitos e alguma disponibilidade de recursos para afectar na promoção a esta linha de comunicação uma vez que temos candidaturas aprovadas. Vamos responder de imediato. Quando chegar o dia 1 de Janeiro esta campanha estará na rua, muito mediatizada, e os portugueses saberão que o Alentejo os convida a fazer férias, fins-de-semana.

A expectativa é que apesar de tudo este crescimento se mantenha, se consolide?
O limite é o céu. Mas temos, concerteza, dificuldades, seria irresponsável hoje em dia qualquer responsável público garantir que [a região] vai continuar a subir as taxas de procura. O que garanto é que vamos fazer todos os possíveis para manter estes números, sendo difícil continuar a subir atendendo à conjuntura global.  Temos algumas ideias, vamos responder com medidas, queremos apresentar produtos interessantes para os turistas mas é algo que vamos fazer de forma coordenada com os empresários.

Ora essa coordenação era justamente algo que não existia quando havia uma profusão de regiões de turismo neste território?
Gosto muito pouco de falar do passado, o que importa é que esta gestão tem estado no terreno. Penso que vencemos um mito. Havia a ideia de que a Entidade Regional de Turismo iria olhar só para uma ou outra região e não é assim, temos estado em todo o Alentejo. Três anos depois somos reconhecidos por isso, por parte dos operadores, dos empresários, dos autarcas … criámos, é importante dizê-lo, esta ideia de ‘marca Alentejo’. O Alentejo vale como um todo, como uma marca.

O Turismo do Alentejo vai manter-se tal como está?
Todos os grandes destinos do mundo têm organismos regionais de turismo. Não discuto o modelo, pode não ser este, as competências podem ser outras, o número de dirigentes ou de técnicos pode ser outro mas os organismos regionais de turismo são fundamentais. Turismo é território. Noutros sectores pode haver uma só direcção-geral em Lisboa mas turismo é território, é diferenciação de território, temos produtos completamente distintos do Algarve ou de Lisboa ou do Norte. Somos concorrentes e temos de provar que somos melhores do que eles.

Sendo que esse é um assunto que está em cima da mesa?
Agregar tudo isto não me parece correcto mas sei também que a sensibilidade do Governo não é essa, vai no sentido de manter organismos regionais de turismo. Quanto ao modelo, quando estiver em discussão terei oportunidade de dar a minha opinião.

Mas faz sentido ter uma multiplicação de organismos por exemplo para a promoção interna e externa?
Há um modelo que se consolidou nestes últimos cinco anos de promoção externa em conjunto com os empresários. Acho que é muitíssimo bom, muito bem estruturado. Se a promoção interna deve ser integrada neste modelo é uma questão a discutir. Parece-me que o destino de um ponto de vista promocional deve ter apenas uma voz, uma imagem muito forte e uma marca que é ‘Alentejo’.

Sobre Luís Godinho

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