Alentejo é a região do país com mais produção biológica

Por em 13 de Julho de 2012

Telmo Teixeira é formado em sociologia e trabalha com computadores. Filipa Quadrado, a mulher, nasceu em Lisboa e sempre viveu na cidade com o “bichinho” da terra. É engenheira do ambiente, trabalhou num banco, andou pelos Açores a observar a pesca do atum e os dias passados no mar deram-lhe a certeza que o trabalho de escritório não era, de todo, a sua vocação.

Depois de muito pensarem decidiram mudar de vida. E há um ano lançaram-se na agricultura biológica. “Não crescemos a pensar que iríamos ser agricultores, nada disso. Mas talvez por não estarmos particularmente satisfeitos com o nosso emprego e estarmos mais atentos à evolução dos tempos acabámos por nos interessar por esta área e decidimos mudar de vida”, conta Filipa. Há um ano nasceu o “Casal Hortelão”, um dos 3300 produtores biológicos existentes no país.

Em Portugal existem 2434 produtores biológicos de hortícolas e frutícolas e 937 pecuários (513 dos quais no setor bovino). O Alentejo é a região do país com mais produção biológica, tanto em número de produtores (963) como de área explorada, seguida de Trás-os-Montes e da Beira Interior.

Telmo e Filipa dedicam-se à agricultura em meio hectare de terreno na zona de Sintra. Ele faz a montagem da rega e da luz, a manutenção das ferramentas e trata da maquinaria. Ela trata da sementeira, das colheitas e das ervas daninhas. “Às vezes com a ajuda de uma ou outra ave que por ali passa”.

Numa grande parte da quinta têm cultivado tremoço e fava, duas leguminosas destinadas a fazer “adubação verde” (adubar o solo) na primavera. Na estufa têm beterraba, rabanetes, ervas aromáticas, aipo, couves lombarda e portuguesa, entre outros produtos. “Dá para irmos mantendo”, refere Filipa Quadrado, acrescentando que a atividade agrícola “não foi completamente estranha” uma vez que os pais também têm pequenas parcelas. “Não custa quando se gosta, estou lá todos os dias”.

“Não faz sentido a agricultura não ser biológica. Acreditamos que no futuro as produções serão biológicas e idealmente locais. Há imensos terrenos abandonados para isso, alguns dos quais até pertencentes ao Estado”.

Para o presidente da Associação Portuguesa de Agricultura Biológica (Agrobio), Jaime Ferreira, mais do que “estar na moda”, existe “cada vez mais” a preferência dos consumidores em relação a produtos nos quais não se utilizam químicos nem pesticidas. “Ao ser reconhecido o valor dos produtos biológicos surgem mais pessoas interessadas em os produzir”.

De acordo com dados do Ministério da Agricultura, o número de produtos biológicos duplicou nos últimos cinco anos, sendo que existem mais de 210 mil hectares de explorações agrícolas neste modo de produção.

“Ao agricultor biológico exige-se uma atitude diferente para com o ambiente e para com o consumidor. Ao não utilizar uma série de substâncias químicas e ao tratar o solo de uma forma diferente, sem pesticidas, tem um compromisso e uma responsabilidade diferente, originando um produto de melhor qualidade”, sublinha Jaime Ferreira, apontando a comercialização, em particular a efetuada através da grande distribuição, como um dos “calcanhares de Aquiles” dos produtores.

Segundo o presidente da Agrobio, o maior problema prende-se com o preço, dificuldade igualmente sentida pelos pequenos agricultores convencionais. “Não existe produção suficiente nem consumidores para os produtos estarem nas grandes superfícies, feitas para vender em grande escala, onde se joga com o tempo que o produto fica na prateleira”.

São fatores como este que inflacionam o preço dos biológicos e afastam alguns consumidores. Em média, um produto biológico deveria ficar cerca de 20 a 30 por cento mais caro do que um convencional. “Nunca o dobro ou triplo, como se encontra nalguns locais”.

Como ser agricultor biológico

Formação
Existindo terreno para iniciar a atividade agrícola, o primeiro passo é a formação. A Agrobio, por exemplo, promove a realização de vários cursos de agricultura biológica. O próximo, em horário pós-laborar, começa dia 13 de fevereiro no Jardim Botânico em Lisboa.

Conceito
Aqui não se recorre à aplicação de pesticidas, adubos químicos ou antibióticos, nem se utilizam produtos geneticamente modificados. O objetivo é preservar o ambiente e salvaguardar a saúde dos consumidores, que não ficam expostos aos resíduos químicos existentes nos produtos.

Ecologia
A criação de habitats e a manutenção da diversidade genética e agrícola é uma das metas de um processo produtivo onde se fomenta o uso eficiente da energia e se preservam as paisagens e os recursos naturais.

Comercialização
Levar os produtos ao conhecimento dos consumidores é um dos grandes desafios. A Internet pode dar uma ajuda. Mas por todo o país há igualmente mercados tradicionais e outros especificamente dedicados à produção biológica.

Sobre Luís Godinho

Um comentário

Deixar um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Comment moderation is enabled. Your comment may take some time to appear.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.