Projecto Inovador – Casa Pia de Évora cria Comissão de Honra

Por em 1 de Junho de 2013

Este fim de semana, no Colégio do Espírito Santo, da Universidade de Évora, foi formalmente constituída a Comissão de Honra da Casa Pia de Évora, congregando parcerias da maior relevância local e nacional.

Os Centros Distritais de Évora e Portalegre do ISS, gerindo directamente internatos de crianças e jovens, decidiram assinalar o Dia Mundial da Criança “com uma reflexão sobre as crianças e jovens em risco e sobre o modelo de sociedade actual tantas vezes egoísta, discriminatório e estigmatizante para os jovens institucionalizados”, referiu Sónia Ramos Ferro, directora do Centro Distrital de Évora.

O projecto resulta do desafio feito a um conjunto de entidades públicas e privadas de reconhecido mérito e idoneidade, e que pelas suas características, pudessem apadrinhar os jovens da Casa Pia de Évora, colaborando no seu projecto de vida.

São parceiros da iniciativa:

Universidade de Évora;

Hospital do Espírito Santo de Évora;

Delegação Regional do Instituto de Emprego e Formação Profissional;

Banco Espirito Santo;

Fundação Eugénio de Almeida;

Agrupamentos de Escolas de Évora n.º 1,2,3, e 4;

BC Evora, Gestão de Restaurantes, SA;

Somefe, Sociedade de Metais e Fundição, Lda.;

Santa Casa da Misericórdia de Évora;

e Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de Évora.

 

Casa Pia de Évora – 177 anos de História, Virtude e Trabalho

A Real Casa Pia de Évora foi fundada por Decreto datado de 27 outubro de 1836, sob a tutela do então Ministério do Reino e mais tarde, do Ministério do Interior, com o propósito de dar acolhimento, educação moral e literária à infância. Para tal, a Real Casa Pia de Évora “alojava, vestia e alimentava os infantes desvalidos, oferecia ensino elementar, oficinas de alfaiate, sapateiro, carpinteiro, abegão e ferreiro, ensino de trabalhos de agulha, costura, bordado e marca, bem como lavar, engomar e cozinhar”.

Foi seu mentor António José de Avila, depois Conde de Avila e mais tarde Duque de Ávila e Bolama, na época, governador civil do distrito de Évora.

António José de Ávila recolheu donativos valiosos na cidade e escolheu o Colégio do Espirito Santo (edifício principal da Universidade de Évora).

Desde a sua fundação que a Real Casa Pia de Évora se procurou integrar na vida eborense, com sucesso, sendo reconhecida, respeitada e elogiada. Os seus alunos eram frequentemente solicitados para participar em vários festejos e a banda de música gozava de especial apreço, tendo os periódicos da época solicitado aos seus administradores “ouvir mais vezes aqueles distintos músicos e eles maior incentivo para o estudo, usando de tal distração uma grande parte da população da cidade.”

Entre 1836 e 1910 a Casa Pia de Évora teve 25 administradores, quase sempre membros da elite local, rica e poderosa, que lhe emprestava o seu prestígio e dessa forma punha em prática a sua filantropia, traduzida numa política que tinha como principais preocupações a ordem, a disciplina, a aprendizagem, o bem-estar dos alunos e a gestão razoavelmente equilibrada de um património vasto e gerador de rendimento.

Graças às inúmeras e generosas doações de património, quer de particulares, de casas religiosas entretanto extintas, mas também pela Rainha D. Maria Pia, a Casa Pia de Évora tornou-se uma das maiores instituições de crédito da cidade de Évora, posição que manteve até 1880.

Entre o vasto património, encontra-se o edifício do antigo Mosteiro de S. José, vulgarmente conhecido por Convento Novo. Foi cedido à Casa Pia de Évora por Decreto de 12 de junho de 1889, onde viria a ser instalada a Secção Feminina da Casa Pia de Évora, também conhecida por Colégio das Órfãs, e que contou inicialmente com 49 alunas, estando nesta Secção integrado o Recolhimento Escola Dr. João Batista Rolo e o asilo de mendicidade, até 5 de Outubro de 1919.

Em 1941 a Casa Pia de Évora – Secção Masculina, era transferida para o Convento de S. Bento de Castris, cedido gratuitamente por um período de 60 anos, onde acabou por permaneceu até 2006.

Em 1880, os administradores da Casa Pia de Évora, homens de visão, investiram na formação técnica dos casapianos, pois tinham consciência da importância da aprendizagem de um ofício, não apenas para que os mesmos pudessem enquadrar-se facilmente no mercado de trabalho, mas também para fomentar o progresso da região.

Era, então, tal como hoje, objectivo da instituição formar cidadãos úteis à sociedade, sendo por isso a verba despendida no ensino técnico a segunda mais elevada, depois dos gastos com alimentação, vestuário e calçado.

Sobre os alunos da Casa Pia de Évora escreveu Gabriel Pereira: “ao entrar na Casa Pia, ao ver funcionar as suas escolas e oficinas, ao ouvir as vozes frescas e juvenis entoar em coro a sua oração de graças, ao ver passar na rua o gracioso batalhão de paz e trabalho, sente-se viva, intensa, palpitante a ideia de que ali está uma sólida base de civilização, um exemplo eloquentíssimo da boa aplicação dos verdadeiros princípios democráticos, um dos melhores frutos da liberdade.”

 

Figuras Ilustres

Damásio Jacinto Fragoso, Natural de Montemor-o-Novo, entrou na instituição em 1839 com 8 anos de idade.

Aluno interno da Casa Pia, frequentou o Liceu de Évora, onde veio a ser secretário e professor. Concluído o curso do liceu, a Casa Pia custeou a sua estadia no Colégio dos órfãos de Coimbra, e os estudos na Universidade da mesma cidade, onde se doutorou em Teologia em 1854.

No mesmo ano foi convidado para lecionar duas cadeiras no Seminário de Évora. Em 1860 era regente da cadeira de Direito Natural. Em 1866 foi nomeado lente catedrático da Faculdade de Teologia.

Em 1870 foi nomeado vigário da diocese de Aveiro e foi Presidente geral dos exames no liceu nacional da mesma cidade. No ano de 1877 foi promovido a lente de prima, decano e diretor da Faculdade de Teologia da Universidade de Coimbra. Faleceu nessa cidade, em 1897, deixando em testamento todos os seus bens à Casa Pia de Évora, como forma de agradecimento.

Outros alunos da Casa Pia de Évora se destacaram ao longo dos tempos, e a tendência para o mundo das artes e para o desporto permanece.

São centenas as medalhas, taças e troféus recebidas pelos alunos da Casa Pia de Évora, ao longo de quase dois séculos de história e que hoje constituem o nosso espólio memorial que é prova fidedigna do cumprimento da sua missão.

A história da Casa Pia de Évora se encontra já parcialmente documentada numa tese de mestrado de Maria Isabel Gameiro, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, em 2000, no período de 1836 a 1910.

 

Sobre o trabalho, recentemente realizado Sónia Ferro refere que “ em ano e meio, a requalificação dos Estabelecimentos Integrados e entre eles a Casa Pia de Évora, foi, desde a primeira hora, uma prioridade.”

“Inventariámos todo o espólio da Casa Pia de Évora, que não se encontrava devidamente identificado desde a transferência do Convento de S. Bento de Castris, em meados de 2006. Doámos 21 peças de arte ao Museu de Évora, entre pinturas, esculturas e um órgão, considerando que a Segurança Social não tem como missão a conservação do património e atendendo ao seu estado de degradação ser-nos-ia impossível a sua recuperação, agora a cargo do Museu de Évora e da Direção Regional de Cultura do Alentejo” e

“Inventariámos, também, 3 242 livros, todos eles provenientes da antiga biblioteca do Convento de Bento de Cástris, e que se encontram na sede do Centro Distrital, na Casa Pia de Évora e no nosso arquivo central. Temos um espólio literário rico e diversificado, com mais de dois séculos, que deve ser disponibilizado à comunidade civil e científica.”, concluiu a dirigente visivelmente satisfeita com o lançamento desta iniciativa.

 

O dia foi ainda rico em actividades culturais, recreativas e lúdicas no centro histórico da cidade Património Mundial, com a participação de centenas de jovens que deram um colorido especial a esta comemoração que marcou, de forma muito diferente e relevante, o Dia Mundial da Criança em Évora, este ano.

 

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