“Vila Viçosa, Vila Ducal Renascentista”

Por em 15 de Dezembro de 2019

Entrevista ao Presidente da Câmara de Vila Viçosa Manuel Condenado

   1 – Quais as valências patrimoniais e culturais que estão na base da candidatura de Vila Viçosa?

     Há vários motivos substanciais que justificam uma candidatura à Lista do Património Mundial da UNESCO, dado que existem valias históricas e artísticas de peso a ancorar tal pretensão. Antes de mais, destaca-se a valia excepcional da matriz urbana, com particular destaque para o inovador projecto que reconcilia um modelo renascentista e um burgo medieval. Há ainda que contar com o peso da dimensão da valência paisagística, que é resultante de um modelo que conjuga o conhecimento da natureza do sítio e a consciência e a identidade do lugar. Ou, em síntese, uma “vila ducal renascentista” que nunca deixou de ser vila. Tudo isto, embelezado pela riqueza das artes decorativas, de que são singulares testemunhos, principalmente, a qualidade e a quantidade das decorações fresquistas, sobretudo, dos séculos XVI e XVII, e os revestimentos azulejares que ilustram um percurso evolutivo do azulejo português até ao século XVIII.  Vila Viçosa, adquire, também, excepcionalidade acrescida pela conjugação de vários exemplos arquitectónicos e monumentais paradigmáticos, à cabeça dos quais figuram nomes que são símbolos calipolenses per si: o grandiloquente Terreiro do Paço de Vila Viçosa, considerada uma das mais belas praças-rossio do País, o Palácio Ducal e o Castelo Artilheiro. O que avulta em Vila Viçosa é, ainda, a especificidade dos equipamentos e dos revestimentos marmóreos,onde tudo nos surge constuído em mármore e que faz uma diferença de peso na candidatura. Alémde ser uma espécie de cidade ideal do Renascimento português, a vila é também a capital da Região dos Mármores.

Foto de Valter Anão – www.fotografiadigital.pt

    A singularidade e a importância de Vila Viçosa não reside na soma das várias tipologias do seu património cultural, quando avaliadas independentemente, mas sim na excepcionalidade da sua harmonia e da conjugação entre todos os elementos, que ainda hoje são perfeitamente visíveis. A vila paçã vale e impressiona, acima de tudo, pela sua beleza harmoniosa e pelo sentido global do seu todo. Enfim, é o projecto cultural e urbanístico, portador de uma singular e duradoura marca seiscentista, que constitui a principal alavanca da candidatura do Bem “Vila Viçosa, Vila Ducal Renascentista à Lista do Património Mundial.

2 – Qual o nível de participação da comunidade e das instituições locais no processo de candidatura ?

      Coube, naturalmente, à Câmara Municipal de Vila Viçosa, com o apoio e a colaboração inexcedíveis da Fundação da Casa de Bragança, a responsabilidade de elaborar o dossiê de candidatura. Uma tarefa complexa que exigiu de todos um labor persistente e que reuniu a sociedade civil calipolense e, sobretudo, a cooperação científica especializada. Resulta intorneável enfatizar que os contributos entrelaçados da discussão pública, durante a qual a apreciação dos documentos da candidatura foi objecto de uma alargada consulta e dos diversos especialistas que constituem as Comissões Científica e Executiva, assim como dos parceiros institucionais, garantiram um melhor entendimento do carácter singular do património calipolense e permitiram fundamentar os valores excepcionais do Bem candidato. Neste processo colectivo e colaborativo, a comunidade local, académica, institucional e científica e as dezenas de participantes tiveram a oportunidade de dar o seu contributo, de expressar a sua opinião e de permitir uma participação alargada, que certamente terá continuidade no futuro. A isto há que juntar que a estrutura da composição dos parceiros institucionais da candidatura já incluía um importante espaço de representação da comunidade local, mormente, através de representantes da Assembleia Municipal de Vila Viçosa, das Juntas de Freguesia do Município, do Agrupamento de Escolas de Vila Viçosa e das Fábricas Paroquiais.

3 – Já existe alguma calendarização para a entrega do dossiê final da candidatura na Comissão Nacional da UNESCO?

      A inscrição na Lista do Património Mundial, corresponde a um desiderato antigo que se ilustra pela ambição, pela determinação, pela perseverança,  pelo espírito insubmisso e pelo esforço empreendedor. Neste sentido, a candidatura deu no corrente ano um passo muito importante.   

    O Volume I, relacionado com a fundamentação e a justificação dos critérios de valor universal excepcional, e o Volume II, que contém o Plano de Gestão e os respectivos anexos, assim como o Volume III, que reúne os estudos históricos sobre os principais valores patrimoniais da “primeira corte ducal do renascimento português”, que apresentam uma relação dialéctica e indissociável entre si e as várias valências e vivências do património local, após as recentes provas tipográficas, estarão concluídos provavelmente, até ao final de 2019. De seguida, estes documentos serão entregues na Comissão Nacional da UNESCO.

4 – Quais são as expectativas da autarquia em relação à inclusão definitiva de Vila Viçosa na Lista do Patrimonial Mundial da Unesco? 

      A inscrição do Bem “Vila Viçosa, vila ducal renascentista” na Lista Indicativa de Portugal ao Património Mundial da UNESCO, significa o reconhecimento nacional e institucional dos seus valores patrimoniais e foi decidida com base na avaliação rigorosa de um painel de especialistas que analisou e reconheceu o carácter universal do património do Bem proposto, atestando a sua extraordinária capacidade de autenticidade e a integridade de todos os seus elementos.  Acresce que a candidatura preenche uma lacuna importante na Lista Indicativa de Portugal e do Património Mundial. Existem, razões de sobra para que o processo de classificação mundial desta vila alentejana, sob a égide da autarquia calipolense, seja encarado com as melhores expectativas, no sentido de que poderá ser coroado de sucesso face às mais-valias que a suportam.

5 – Até que ponto é que essa inclusão na Lista do Património Mundial da UNESCO pode ser proveitosa para o desenvolvimento turístico e económico do concelho e da região?

      Como é sobejamente conhecido, a Convenção do Património Mundial, Cultural e Natural da UNESCO, da qual Portugal é um Estado-parte, é uma o instrumento de direito internacional de maior sucesso e repercussão junto do grande público. Por isso, a classificação mundial constitui uma abertura do nosso património ao Mundo, um valioso elemento para a divulgação turística e um projecto com capacidade de projecção internacional. Vila Viçosa, caso consiga o almejado galardão, poderá juntar, à posição que já beneficia, uma promoção nacional e internacional sem precedentes. Acresce que suscitará o interesse de diversos meios de comunicação social e de particulares. Concomitantemente, a classificação constituirá um reconhecimento internacional do valor excepcional dos símbolos mais representativos do património cultural calipolense, o que significará um motivo de orgulho e uma mais-valia para Vila Viçosa, assim como um aumento exponencial das nossas possibilidades turísticas, com repercussão positiva em todas as actividades económicas do concelho e da Região.

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