História e património de Avis

Por em 22 de Fevereiro de 2012

No coração do distrito de Portalegre encontra-se uma localidade cuja importância histórica para o território nacional é por vezes esquecida. Se hoje se debate com os problemas vindos da sua interioridade, Avis continua a ter à disposição um vasto património edificado e natural.

A vila de Avis, terra de D. João I, desempenhou um papel de destaque na História do nosso País, por ter sido a sede de uma das mais importantes Ordens Militares e ter dado nome à mais emblemática dinastia portuguesa. A primeira referência ao lugar de Avis em documentação medieval portuguesa data do século XIII, quando, no âmbito da Reconquista, ali foi sediada uma importante Ordem Militar que adoptou o mesmo nome. A Ordem usufruía, então, de um forte poder secular e religioso na vila, não tendo sido permitida a instalação de qualquer outra entidade religiosa, de forma a evitar a existência de mais um concorrente na posse de bens e direitos.

A definição da origem de Avis não é, no entanto, consensual, uma vez que alguns documentos apontam para a preexistência desta localidade em relação à Ordem Militar que ali se instalou, fazendo referência à doação destas terras por Afonso II aos freires de Évora, em 1211, para que aí construíssem uma fortaleza e formassem uma povoação. Há ainda autores que consideram que os monumentos megalíticos existentes revelam que os primeiros povoadores terão ali chegado na Idade do Ferro. Existem também alguns registos alusivos a desvios das vias romanas até Avis, que remontam ao século X, o que revelava já então a existência de um núcleo populacional. Em Avis subsistem ainda alguns vestígios islâmicos que apontam para a presença de comunidades muçulmanas neste lugar. Neste contexto, a doação das terras a uma entidade religiosa só pode ser entendida como forma de impor uma nova autoridade no âmbito de um longo processo de Reconquista, em que se procurou estender, progressivamente, a fronteira cristã a sul.

Apesar do passar dos séculos, da evolução dos gostos e das mentalidades, Avis conserva ainda o traçado das ruas estreitas e algumas construções que testemunham a origem histórica da vila. Hoje caracterizada pelo casario branco, com faixas coloridas de amarelo ou azul, tem no seu centro histórico tem muito para mostrar, como as ruínas do Convento de S. Bento de Avis, cuja origem remonta a 1211, o edifício hoje ocupado pelos Paços do Concelho, que fez outrora parte da residência dos Mestres da Ordem de Avis, a Igreja Matriz e o Pelourinho. Do Castelo de Avis subsistem três das suas seis torres e alguns panos de muralha, adaptados para construções modernas: Torre da Rainha ou do Convento (junto às portas do Anjo e do Arco), Torre de Santo António (a ocidente) e Torre de S. Roque (a nordeste).

As características naturais de Avis fazem desta região o palco ideal para um vasto conjunto de actividades desportivas e de lazer ao ar livre, desde os simples passeios pedestres, de BTT, de quad, ao ecoturismo ou à equitação. A escassos quilómetros da vila, a albufeira do Maranhão e o Clube Náutico proporcionam, ainda, as condições ideais para a prática de diversos desportos náuticos como a natação, a pesca desportiva, a canoagem, o remo, o ski aquático, a vela, o windsurf e o kitesurf.

No mesmo concelho preze ainda uma visita Às freguesias rurais, autênticas montras no Alentejo profundo e tradicional, onde a qualquer esquina se sujeita a encontrar um pedaço de boa conversa e um espírito de hospitalidade difícil de igualar. Alcórrego, Ervedal, Benavila e Aldeia Velha, são alguns dos pontos onde essa esperiência pode acontecer.

O sagrado e o profano

Na exposição ‘O Sagrado e Profano’ que está patente na Igreja do Convento de S. Bento de Avis, será possível ao visitante o contacto com dois núcleos principais, um sobre a importância da Ordem Militar de S. Bento de Avis e o seu estabelecimento no território nacional, e outro destinado às festividades, muitas vezes reflexo de aculturação de cultos antigos que se perdem na origem dos tempos.

Do primeiro núcleo ressaltam os aspectos relativos à importância da Ordem Militar no contexto da reconquista peninsular, passando pela fundação e o estabelecimento da mesma em território nacional, a orgânica interna da mesma e os seus reflexos na organização espacial do Convento. Aqui, contempla-se a evolução do edifício desde o período medieval, passando pelas campanhas do renascimento, onde se destaca a obra mecenática de D. Jorge de Lencastre, até às campanhas maneiristas. Seguem-se depois as intervenções do período Barroco e o lavor de alguns mestres artísticos de reconhecido valor, onde se poderão observar algumas peças em exposição de confirmada qualidade artística. A alusão a antigos priorados da Ordem de Avis e às suas igrejas, bem como os programas artísticos que estiveram subjacentes às campanhas decorativas, permitem traçar o percurso desta sede de concelho com séculos de história.

Sobre Pedro Galego

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