“Metade das nossas vendas é feita no estrangeiro”

Por em 12 de Janeiro de 2012

Administrador da Herdade do Esporão, João Roquette atribui o sucesso da empresa que dirige à capacidade de se apresentar com uma “proposta de valor clara e relevante em diferentes segmentos de preço”. As exportações assumem uma importância crescente na empresa, cujo volume de negócios atinge 40 milhões de euros por ano.

Como explica o sucesso dos vinhos do Esporão?
A capacidade de, ao longo dos anos, ter uma proposta de valor clara e relevante em diferentes segmentos de preço, estabelecendo uma relação de confiança com os seus clientes

O primeiro vinho foi engarrafado em 1985 (fez agora 25 anos) – que vinho foi? Ainda existem algumas garrafas?
Em 1985 produzimos 2 vinhos: o Esporão Reserva tinto e branco. Curiosamente o primeiro a ser lançado no mercado foi o branco. Ambos foram inovadores em vários aspetos, mas realço o facto da utilização das castas Cabernet Sauvignon e Touriga Nacional, na época quase inexistentes na vitivinicultura do Alentejo. Os rótulos têm ilustrações dos artistas de Dordio Gomes (tinto) e Cargaleiro (branco), na época uma abordagem disruptiva. Ainda temos algumas garrafas na nossa garrafeira.

Desde esse primeiro momento, a aposta foi sempre dirigida a um segmento mais elevado? Porquê?
O meu pai e o Joaquim Bandeira (sócio fundador) sabiam que havia, em 1985, ótimas condições no Alentejo e em Portugal para a afirmação do vinho como um produto de excelência e o desenvolvimento de marcas que “prometessem” mais do que uma commodity.
A ambição foi, desde o início, fazer os melhores vinhos e refletiu-se nos investimentos feitos, na qualidade da viticultura, na exigência dos lotes de vinho a serem comercializados, na apresentação do produto.
Quando foram lançados, os vinhos eram considerados “caros”, Esporão reserva custava mil escudos, cino vezes mais do que a média. Mas rapidamente tivemos os críticos e opinion liders do nosso lado pois reconheceram o esforço e compromisso pela qualidade. Eles e os que os têm comprado ao longo destes anos.

A Herdade do Esporão foi adquirida em 73 por José Roquette. A intenção foi logo fazer vinho – qual era o projeto inicial? Como surgiu a cultura do vinho?
A compra da Herdade do Esporão foi o meio para atingir o objetivo de desenvolver um projeto vitivinícola de alta qualidade. A visão inicial era tão ambiciosa quanto arriscada. Existem documentos oficiais, do governo regional que aprovou a construção da primeira adega, que indicam: “Projeto megalómano destinado a falência rápida”. Guardamos esse documento com carinho pois é a confirmação do grande proverbio chinês segundo o qual todas as grandes conquistas são, ao princípio, impossíveis.

Hoje em dia, o Esporão produz vinho no Alentejo e no Douro. Qual é a realidade da empresa?
Somos uma empresa familiar, como os mesmos valores que há 25 anos, mas com uma realidade diferente. Somos maiores, mas continuamos a controlar o processo desde a plantação (vinhas e olivais) até à distribuição. Produzimos os nossos vinhos e azeites nas duas principais regiões de Portugal, o Alentejo e o Douro, e vendemos um portfolio variado de produtos em mais de 50 mercados.

Como é que começou a trabalhar na empresa? Foi uma decisão natural, tendo em conta que é uma empresa de família?
Foi um processo natural. Formei-me e cresci trabalhando noutros projetos, primeiro na Merrill Lynch em Londres e depois num projeto pessoal relacionado com música em Espanha. Aos 30 anos aproximei-me do Esporão e o Esporão de mim. Colaborei em vários projetos internos durante 2 anos e em 2006 surgiu a oportunidade de assumir a liderança executiva da empresa. Estou satisfeito pelo facto dos objetivos que defini com os acionistas para o plano 2006-2011 terem sido cumpridos.

Quatro anos depois de produzido o primeiro vinho, a empresa começou a exportar. Qual o peso atual das exportações?
50% das nossas vendas são feitas no mercado internacional. Os principais mercados são o Brasil, onde temos a nossa própria distribuidora desde 1995, Angola e EUA onde temos escritórios e colaboradores locais. A Suíça, Canadá, Polónia, Inglaterra, Bélgica, Alemanha, França, Luxemburgo, Moçambique são mercados também importantes. As marcas que mais exportamos são as que melhor se adaptam às características de cada mercado, por isso varia. Por exemplo, no Brasil e Suíça vendemos sobretudo vinhos e azeites premium e super premium.
Outra importante “exportação” são os cerca de 10 mil turistas que nos visitam anualmente na Herdade do Esporão.

Quais as maiores dificuldades que o setor dos vinhos enfrenta para exportar?
Muito foi feito, mas existe ainda uma grande falta de notoriedade e alcance da marca “Portugal”, assim com falta de capacidade do setor se mobilizar e coordenar os esforços de promoção. O Esporão assumiu a responsabilidade de dar o seu contributo para melhorar esta situação, seja pelo grande investimento nos mercados internacionais que tem feito, seja pelas minhas responsabilidades, desde julho deste ano, como vice-presidente da ViniPortugal.
Existe também um défice de dimensão das empresas Portuguesas que permita alocar investimentos para competir nos principais mercados internacionais.

Pessoalmente, qual o vinho do Esporão que mais aprecia?
Depende da colheita. Cada ano a natureza trás consigo novas combinações de clima, resultando em vinhos com características diferentes. Para mim como apreciador de vinhos este aspeto é desafiante e deixa-me curioso. Nos últimos anos recomendo, nos vinhos mais acessíveis, o Monte Velho tinto 2009, o Defesa tinto 2008, o Assobio 2009 (Douro) e o Verdelho 2010. Nos vinhos de alta gama recomendo o Esporão Private Selection 2007, o Esporão Reserva 2008, o Touriga Nacional 2008 e o Quinta dos Murças Reserva 2008 (Douro). Para apreciadores de aguardente, recomendo a Magistra DOC Lourinha.

Em que medida a diversificação é importante?
Na medida em que queremos ter uma oferta de produtos, complementar, que responda às expectativas e procura dos nossos clientes. Como se tem vindo a verificar, os azeites extra virgens são um complemento natural ao portfolio de vinhos. Estamos apostados em desenvolver a categoria premium de azeites em Portugal e competir nos mercados internacionais onde ela exista.

Há novos vinhos/produtos do Esporão a chegar ao mercado?
Em 2012 serão lançados os vinhos da colheita 2011, possivelmente a primeira grande colheita desta década. Vamos ver… lançaremos também o Torre 2007, o nosso vinho mais exclusivo, produzido apenas em anos especiais e lançado com 5 anos de estágio. Foram produzidas apenas 3.000 garrafas que serão alocadas aos nossos melhores clientes.
2012 também marcará a reinauguração do enoturismo na Herdade do Esporão que beneficiou de importantes obras de requalificação. Terá uma oferta de serviços mais completa e inovadora, explorando o enorme potencial do espaço da Herdade do Esporão, assim como as maravilhas da cultura Alentejana.

Em que ponto se encontra o projeto turístico?
Somos visitados por cerca de 20 mil pessoas/ ano na Herdade do Esporão. Metade chega do estrangeiro, tiveram contacto com os nossos vinhos e curiosidade de nos conhecer. Ficam encantados com Portugal, a nossa cultura, a gastronomia, a hospitalidade, o clima agradável, a beleza e diversidade da nossa paisagem.
A essência da cultura portuguesa e das suas regiões é um enorme ativo que temos e nem sempre é bem tratado. Devemos protegê-la e ter orgulho dela. O turismo é apenas o veiculo que estabelece as condições para quem nos quer conhecer o possa fazer. Na minha opinião, o turismo não deve ser um produto per si. Se a nossa cultura não estiver viva, não temos nada para mostrar.

Sobre Luís Godinho

Deixar um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Comment moderation is enabled. Your comment may take some time to appear.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.