Um olhar sobre a pobreza envergonhada

Por em 2 de Novembro de 2012

A classe média é constituída por uma heterogeneidade muito significativa de pessoas e categorias profissionais. Nos vários estratos que a constituem, há hoje um que está numa situação financeira muito frágil.

A perda de emprego, o endividamento das famílias e o empobrecimento galopante têm conduzido a uma pobreza repentina e amarga, já denominada por “envergonhada”.

A análise social do fenómeno é complexa. A sua dissimulação e a dificuldade em assumir um novo posicionamento social, por parte desta «nova classe», configuram uma dificuldade de compreensão sociológica relativamente consistente desta nova categoria de pobres. Contudo, há traços que transparecem.

Este tipo de pobreza está associado às circunstâncias repentinas da crise económica.

Esta pobreza é, muitas vezes, um fenómeno escondido pelos novos carenciados, os quais já viveram num patamar de desafogado ao nível da satisfação das necessidades básicas de acesso a bens e serviços.

Não há dados sobre o número de pobres envergonhados. Sabe-se que são pessoas que integram agregados familiares que se encontram em condições precárias e que tentam ocultar, por vergonha, a sua nova situação.

Problemas de desemprego, endividamento e incumprimento de contratos de financiamento contraídos, constituem as principais razões desta nova classe de pobres.

O alarme já foi dado por várias instituições sociais. Umas alertam para a rutura de respostas sociais, outras apelam a soluções de inversão deste ciclo. Desencantados e frustrados com o poder politico e económico, estes novos pobres acusam a saturação da ausência de esperança e o descrédito no país em que vivem.

Os agentes do sistema (partidos políticos) tardam em compreender esta nova dinâmica. A contestação e os movimentos coletivos avolumam-se nas ruas e nas redes sociais. Que fazer a estes novos pobres cuja mobilidade descendente os colocou num patamar de dificuldades?

O cenário para o próximo ano não é animador. O indicador de confiança dos consumidores atingiu, em outubro, um novo mínimo histórico. As perspetivas das famílias sobre a economia e a sua própria situação financeira são as piores de sempre. O forte agravamento dos impostos, resultado do Orçamento de Estado para 2013, permite traçar um avolumar deste vírus que atormenta a classe média. Há um país que espera por uma inversão desta nova forma de pobreza (e naturalmente também das outras).

As pessoas escondem a cara na hora de procurar ajuda nas instituições de solidariedade social. Os testemunhos invadem-nos diariamente. Colocam-se novos desafios no domínio da pobreza e da exclusão social. Será que a dignidade humana não tem valor?

 

Sobre Joaquim Fialho

Um comentário

Deixar um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Comment moderation is enabled. Your comment may take some time to appear.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.