“Estamos a inverter tendência para o despovoamento”

Por em 27 de Janeiro de 2012

Entrevista com Jorge Nunes, presidente da Junta de Freguesia de Monsaraz.

500 anos depois da atribuição do Foral Manuelino, Monsaraz continua a ter futuro?
Pensamos que sim e estamos a trabalhar no sentido de criar condições para que o turismo possa ser cada vez mais a grande atividade económica e o grande meio de subsistência nesta região. O turismo pode até trazer de volta a esta zona de Alqueva os jovens que partiram para outros locais por não terem aqui oportunidades de trabalho, além de outras pessoas que se queiram instalar numa região que oferece qualidade de vida.

Em todo o caso, os preços da habitação em Monsaraz são primitivos.
Em Monsaraz, na área intra-muros, o preço da habitação está de facto muito elevado, as restrições em relação às construções são muitas, como sucede em todos os centros históricos, mas há aqui uma área envolvente que é muito apetecida.

Ainda há muitas casas abandonadas em Monsaraz?
Durante a semana há algumas casas fechadas. Mas a maior parte não está abandonada, está recuperada. São casas de fim de semana, casas de férias … depois há também algumas que de facto se encontram abandonadas, até pelo preço a que estão à venda. Agora, para casais jovens e outros que se queiram instalar na região existe toda a área envolvente a Monsaraz, diversas aldeias que estão a ganhar novos habitantes oriundos de outras paragens. São pessoas que trabalham em Reguengos de Monsaraz, na Herdade do Esporão, e que escolhem este local para viver porque lhes oferece qualidade de vida. Queremos que este indicador que já se consegue aferir seja uma certeza no futuro.

Sendo que o despovoamento da freguesia de Monsaraz continuou nos últimos anos.
Voltámos a perder população [resultados do Censos] mas estamos a falar de um período de tempo de 2001 até agora. Esta instalação de novas famílias é uma realidade que se verificou nos últimos quatro ou cinco anos.

Esse despovoamento é preocupante?
É preocupante, mas deixe-me dizer o seguinte: posso estar a ser demasiado otimista mas penso que estamos no bom caminho. Não só a nível da freguesia de Monsaraz mas mesmo em termos do concelho de Reguengos de Monsaraz a tendência é para inverter essa situação.

Devido ao crescimento do turismo?
Temos que assumir as coisas, essa é a realidade. Embora quem fale de turismo fale de todas aquelas coisas que lhe estão associadas e que o município já promove há muito tempo, dos vinhos à gastronomia e à hotelaria, tudo o que está relacionado com este setor e que significa oportunidades de investimento.

Este é um ano especial para Monsaraz?
É um ano especial para a freguesia e para o concelho. O nosso Foral Manuelino faz 500 anos, foi atribuído na altura a este concelho hoje chamado de Reguengos de Monsaraz. Todos os reguenguenses devem rever-se nestas comemorações e em tudo aquilo que vai acontecer aqui na vila pois estamos a falar de um momento que marca e que representa a alma do nosso povo e do que fizemos nestes 500 anos. Todos nos devemos envolver nestas comemorações.

Já está definido o programa?
Vamos apresentá-lo no próximo sábado, com atividades a decorrerem até ao verão. Este também é um ano em que organizamos a nossa bienal cultural, como se sabe Monsaraz Museu Aberto tem um conceito novo, e também aí haverá iniciativas para assinalar esta data.

Os últimos indicadores apontam para uma quebra no afluxo de turistas ao Alentejo. Sendo este um setor chave em Monsaraz, teme que o ano de crise possa significar um acréscimo de dificuldades para as empresas?
Posso-lhe dizer já que em termos de Natal e Ano Novo tivemos a menor afluência de que há memória em termos de visitas à vila e ao presépio. Não tenho dúvidas de que esta crise e a pressão a que estão sujeitas muitas famílias se acabará por fazer notar nas visitas a Monsaraz. Mas não podemos pensar nisso. Temos de trabalhar para que os resultados sejam os melhores e criar aliciantes que façam as pessoas vir até cá. Queremos criar curiosidade suficiente nas pessoas para que estas nos continuem a visitar e possam até esquecer um pouco os problemas do dia-a-dia.

Em termos patrimoniais, há questões por resolver?
Houve muita coisa feita nos últimos tempos mas ainda há muito património por recuperar. Sábado, por exemplo, vamos inaugurar as obras de recuperação da Torre do Relógio, um dos monumentos mais visíveis da vila, o rosto de Monsaraz para quem chega de fora, e que estava em risco de ruir. Neste momento está recuperado, foi alvo de uma intervenção de grande qualidade e isso deve-se a um investimento forte da Câmara Municipal no restauro e requalificação do património. A Casa da Inquisição também estava a cair e foi alvo de uma intervenção de fundo que está quase concluída.

E as muralhas?
Há um troço de muralha que está danificado e vai ser todo ele recuperado numa intervenção que arrancará dentro de semanas. Tudo isto mostra a atenção que está a ser dada ao património de Monsaraz.

 

Comemorações dos 500 anos de foral

O município de Reguengos de Monsaraz vai assinalar os 500 anos do Foral Manuelino de Monsaraz, cujo programa comemorativo será apresentado sábado. Na ocasião decorrerá também a apresentação técnica das obras de conservação executadas na Torre do Relógio (monumento construído em finais do século XVII ou início do século XVIII), pelo arquiteto José Filipe Ramalho.

Fonte da autarquia refere que será igualmente assinado o auto de doação do espólio do historiador José Pires Gonçalves, que estudou e proporcionou o conhecimento do património arqueológico do concelho de Reguengos de Monsaraz.

Na sessão vão participar a diretora regional de Cultura, Aurora Carapinha e o historiador e autor do romance “As Horas de Monsaraz”, Sérgio Luis de Carvalho, que apresentará uma comunicação sobre a Torre do Relógio.

No romance histórico publicado em 1997 pela editora Campo das Letras, o autor recua até à longínqua data de 1562, quando um juiz procura devolver à velha fortaleza um pouco do seu antigo prestígio e monumentalidade. Para tal, resolve edificar uma torre com um relógio.

A ação teve contudo reações diferentes que levou a rivalidades entre os moradores de Monsaraz: para os burgueses e mercadores locais, homens “terrenos”, a torre seria um “símbolo de orgulho urbano”, mas para o vigário da aldeia ela iria contra a natureza, ritmada pelas estações, nas quais os homens “divinos” se reviam. Nesta sessão serão ainda declamados poemas por Manuel Sérgio e atuará o Grupo Coral da Freguesia de Monsaraz.

No dia 1 de Junho passam precisamente 500 anos desde que o rei D. Manuel I outorgou em Lisboa um novo foral à vila de Monsaraz para substituir o antigo Foral Afonsino (atribuído por D. Afonso III em 1276). Nesta data será recriada a entrega do foral ao Alcaide, decorrerá o lançamento da edição fac-símile do Foral Manuelino e haverá um concerto comemorativo da efeméride.

O programa integra igualmente a exposição “Monsaraz na História”, que vai estar patente na Igreja de Santiago entre 1 de Maio e 30 de Junho, assim como a abertura do Museu do Fresco, que vai decorrer no dia 13 de Julho. Neste museu poderá apreciar-se o Fresco do Bom e Mau Juiz, pintura dos finais do século XV e descoberta em 1958 que representa a alegoria da justiça terrena, em que o bom e o mau juiz são os elementos principais e que evidenciam as fórmulas tradicionais de isenção e corrupção humanas.

Também no dia 13 de Julho será apresentado o projeto de recuperação do Alquerque (ver artigo nesta página).

O programa comemorativo do Foral Manuelino de Monsaraz inclui ainda no mês de Julho uma sessão de observação noturna de astronomia sobre a evolução do mapa celeste nos últimos 500 anos.

Reformista

No dia 1 de Junho de 2012 assinalam-se 500 anos desde que o rei D. Manuel I outorgou um novo foral à vila de Monsaraz para substituir o antigo foral afonsino atribuído em 1276 por D. Afonso III, redigido em latim bárbaro e já à época em mau estado de conservação e de difícil leitura e interpretação pelos oficiais da Câmara.

Este movimento reformista iniciou-se em Maio de 1496, quando o monarca nomeou uma comissão que, durante as duas décadas seguintes, procedeu à recolha de toda a documentação existente no Reino – privilégios e antigos forais – reformulando-a segundo uma certa sistematização nos chamados “Forais Novos” (ou Manuelinos).

O exemplar que atualmente existe no Museu de Arte Sacra, em Monsaraz, foi adquirido em Junho de 1927 por 1500 escudos (7,5 euros) pelo então presidente da Câmara, Braz Garcia da Costa.

Luís Godinho | Texto

500 anos depois da atribuição do Foral Manuelino, Monsaraz continua a ter futuro?
Pensamos que sim e estamos a trabalhar no sentido de criar condições para que o turismo possa ser cada vez mais a grande atividade económica e o grande meio de subsistência nesta região. O turismo pode até trazer de volta a esta zona de Alqueva os jovens que partiram para outros locais por não terem aqui oportunidades de trabalho, além de outras pessoas que se queiram instalar numa região que oferece qualidade de vida.

Em todo o caso, os preços da habitação em Monsaraz são proibitivos.
Em Monsaraz, na área intra-muros, o preço da habitação está de facto muito elevado, as restrições em relação às construções são muitas, como sucede em todos os centros históricos, mas há aqui uma área envolvente que é muito apetecida.

Ainda há muitas casas abandonadas em Monsaraz?
Durante a semana há algumas casas fechadas. Mas a maior parte não está abandonada, está recuperada. São casas de fim de semana, casas de férias … depois há também algumas que de facto se encontram abandonadas, até pelo preço a que estão à venda. Agora, para casais jovens e outros que se queiram instalar na região existe toda a área envolvente a Monsaraz, diversas aldeias que estão a ganhar novos habitantes oriundos de outras paragens. São pessoas que trabalham em Reguengos de Monsaraz, na Herdade do Esporão, e que escolhem este local para viver porque lhes oferece qualidade de vida. Queremos que este indicador que já se consegue aferir seja uma certeza no futuro.

Sendo que o despovoamento da freguesia de Monsaraz continuou nos últimos anos.
Voltámos a perder população [resultados do Censos] mas estamos a falar de um período de tempo de 2001 até agora. Esta instalação de novas famílias é uma realidade que se verificou nos últimos quatro ou cinco anos.

Esse despovoamento é preocupante?
É preocupante, mas deixe-me dizer o seguinte: posso estar a ser demasiado otimista mas penso que estamos no bom caminho. Não só a nível da freguesia de Monsaraz mas mesmo em termos do concelho de Reguengos de Monsaraz a tendência é para inverter essa situação.

Devido ao crescimento do turismo?
Temos que assumir as coisas, essa é a realidade. Embora quem fale de turismo fale de todas aquelas coisas que lhe estão associadas e que o município já promove há muito tempo, dos vinhos à gastronomia e à hotelaria, tudo o que está relacionado com este setor e que significa oportunidades de investimento.

Este é um ano especial para Monsaraz?
É um ano especial para a freguesia e para o concelho. O nosso Foral Manuelino faz 500 anos, foi atribuído na altura a este concelho hoje chamado de Reguengos de Monsaraz. Todos os reguenguenses devem rever-se nestas comemorações e em tudo aquilo que vai acontecer aqui na vila pois estamos a falar de um momento que marca e que representa a alma do nosso povo e do que fizemos nestes 500 anos. Todos nos devemos envolver nestas comemorações.

Já está definido o programa?
Vamos apresentá-lo no próximo sábado, com atividades a decorrerem até ao verão. Este também é um ano em que organizamos a nossa bienal cultural, como se sabe Monsaraz Museu Aberto tem um conceito novo, e também aí haverá iniciativas para assinalar esta data.

Os últimos indicadores apontam para uma quebra no afluxo de turistas ao Alentejo. Sendo este um setor chave em Monsaraz, teme que o ano de crise possa significar um acréscimo de dificuldades para as empresas?
Posso-lhe dizer já que em termos de Natal e Ano Novo tivemos a menor afluência de que há memória em termos de visitas à vila e ao presépio. Não tenho dúvidas de que esta crise e a pressão a que estão sujeitas muitas famílias se acabará por fazer notar nas visitas a Monsaraz. Mas não podemos pensar nisso. Temos de trabalhar para que os resultados sejam os melhores e criar aliciantes que façam as pessoas vir até cá. Queremos criar curiosidade suficiente nas pessoas para que estas nos continuem a visitar e possam até esquecer um pouco os problemas do dia-a-dia.

Em termos patrimoniais, há questões por resolver?
Houve muita coisa feita nos últimos tempos mas ainda há muito património por recuperar. Sábado, por exemplo, vamos inaugurar as obras de recuperação da Torre do Relógio, um dos monumentos mais visíveis da vila, o rosto de Monsaraz para quem chega de fora, e que estava em risco de ruir. Neste momento está recuperado, foi alvo de uma intervenção de grande qualidade e isso deve-se a um investimento forte da Câmara Municipal no restauro e requalificação do património. A Casa da Inquisição também estava a cair e foi alvo de uma intervenção de fundo que está quase concluída.

E as muralhas?
Há um troço de muralha que está danificado e vai ser todo ele recuperado numa intervenção que arrancará dentro de semanas. Tudo isto mostra a atenção que está a ser dada ao património de Monsaraz.

Sobre Luís Godinho

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